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24 de mar. de 2017

Turquia pode rever laços "políticos e administrativos" com a UE, diz presidente turco

Califa, Erdogan


Euronews, 24 de março de 2017. 



Por Nelson Pereira



A Turquia pode rever todos os laços “políticos e administrativos” com a União Europeia, incluindo o acordo para limitar o fluxo de refugiados, após o referendo de abril – disse esta quinta-feira o presidente turco Recep Erdogan, em entrevista à emissora de televisão Kanal D.

Podemos manter as nossas relações económicas, mas pode ser necessário rever os nossos laços políticos e administrativos”, afirmou Erdogan, acrescentando que “Teremos de analisar com o governo e rever tudo, de A a Z.”


A União Europeia convocou esta quinta-feira o embaixador turco em Bruxelas para pedir uma explicação sobre as declarações do presidente da Turquia, que na véspera afirmou que nenhum europeu poderá “dar um passo nas ruas em segurança” se a União Europeia mantiver uma atitude que considera hostil para com a Turquia.



As relações entre a Turquia e a União Europeia deterioraram-se depois da Alemanha e da Holanda terem recusado a ministros turcos que realizassem nos seus territórios comícios de apoio ao referendo sobre o aumento dos poderes do presidente turco.

Após ter visto a sua participação num comício que pretendia incentivar o voto da diáspora turca no referendo bloqueada pelas autoridades holandeses, o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlut Cavusoglu, não foi confrontado à mesma interdição em França, tendo discursado num comício em Metz.

Ameaça recorrente

Em agosto de 2016, Ancara tinha já ameaçado suspender o acordo estabelecido em março de 2016 com Bruxelas sobre os refugiados se não lhe fosse concedida isenção de vistos para os turcos até outubro.

Questionado na altura sobre as pretensões turcas pelo Rheinische Post, o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Frank-Walter Steinmeier, lembrou que “A Turquia prometeu tomar as medidas necessárias para cumprir a sua parte. Esse não é ainda o caso e a Turquia ainda tem trabalho a fazer”. Na mesma linha, o ministro da Economia alemão, Sigmar Gabriel, assinalou que “em caso algum a Alemanha ou a Europa podem ser chantageadas”.

O principal impedimento à supressão de vistos para os turcos que viajam para a Europa é a recusa da Turquia em alterar a sua legislação antiterrorista, que não está em conformidade com as normas europeias.

Ancara recebeu três mil milhões de euros de ajuda financeira no âmbito do acordo, que prevê a deslocalização para a Turquia de todos os migrantes, incluindo os requerentes de asilo, para travar as chegadas à Grécia.

No dia 15 deste mês, foi a vez do chefe da diplomacia turca, Mevlut Cavusoglu, voltar à carga. Em entrevista ao canal 24TV, Cavusoglu ameaçou que a Turquia pode cancelar unilateralmente o acordo migratório com a União Europeia. “A partir de agora, podemos dizer que não o vamos aplicar e acaba”, disse o chefe da diplomacia turco


A tensão entre Alemanha e Turquia volta a ser agravada: de acordo com a imprensa alemã, Berlim impediu, em 11 ocasiões, a venda de armas para Ancara durante os últimos meses…casos que contrariam os acordos internacionais uma vez que a Turquia é um aliado da Alemanha na NATO.

Este embargo alemão foi também denunciado esta sexta-feira, pelo ministro turco da Defesa, Fikri Isik. “Esperamos que a Alemanha prove que tem bom senso. Nós já vimos armas fabricadas na Alemanha nas mãos de terroristas. O que não é aceitável. Por um lado a Alemanha tenta fazer restrições à Turquia e por outro condena a utilização de armas alemãs pelos terroristas. O embargo à Turquia é inaceitável”, garantiu Isik.


Por causa deste conflito diplomático, Ancara ameaça também suspender o acordo sobre migrantes assinado há um ano com a União Europeia. Entretanto, 11 migrantes morreram afogados esta sexta-feira quando tentavam fazer a travessia de canoa a partir do sudoeste da Turquia. Recorde-se que os naufrágios quase desapareceram desde que entrou em vigor este acordo entre a União e as autoridades turcas.

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