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6 de set. de 2016

Brexit: Governo britânico retarda definição do projeto de saída da União Europeia - enrolação dos lordes





Euronews, 06 de setembro de 2016. 



Por Francisco Marques



Terminadas as férias de um dos verões mais quentes da política britânica, é hora de a Casa dos Comuns, em Londres, começar a lidar devidamente com o “Brexit”, a referendada saída do Reino Unido da União Europeia, aprovada à tira pelos britânicos a 23 de junho: 51,89 por cento votou “sim”; 48,11 por cento, “não” — participação de 72,21 por cento.

Na última segunda-feira, contudo, em plena cimeira do G-20, a decorrer na China, primeira-ministra interina do Reino Unido, Theresa May, não se alongou muito sobre o processo do “Brexit”, reiterou o desejo de fazer do país “um líder no comércio internacional”, mas no concreto não foi além de uma tomada de posição contra a proposta do próprio ministro dos negócios estrangeiros, Boris Johnson, da implementação de um sistema de pontos para os imigrantes similar ai que é aplicado na Austrália.




O que os britânicos votaram a 23 de junho foi para ganhar algum controlo sobre a entrada de pessoas da União Europeia no Reino Unido. Um sistema baseado e pontos não nos dá esse controlo”, defendeu a sucessora de David Cameron, que cedeu as chaves do número 10 de Downing Street à camarada do Partido Conservador depois de ter falhado na defesa da permanência britânica no bloco europeu.

(Forum Económico Mundial: O que os líderes do G20 tinham a dizer sobre o “Brexit”.)

As declarações do secretário de Estado para o Brexit, já esta semana, no regresso ao ativo do Parlamento londrino, também não ajudaram a esclarecer em que pé estará o processo de “divórcio” entre Londres e Bruxelas. Para David Davis, o “Brexit” mais do que não é, neste momento, do que “a saída da União Europeia” com o melhor negócio possível, seja ele qual for.

Significa conseguir o melhor negócio para o Reino Unido. Um que seja único e não apenas uma das soluções na prateleira. Isto tem de significar controlo sobre o número de pessoas da Europa que querem entrar na Grã-Bretanha, mas também algo positivo para aqueles que querem negociar bens e serviços”, limitou-se a dizer David Davis perante os deputados.



Isso é demasiado vago”, retorquiu a oposição, acusando o governo de nada assumir face ao “Brexit” e de entrar inclusive em contradições. A homóloga de David Davis no Partido Trabalhista e no governo sombra, Emily Thornberry, reclama falta de informação sobre “o que o governo está a fazer”. “Quando é que revelam, por exemplo, como vão resolver o livre comércio para as empresas britânicas ao mesmo tempo que querem impor controlos de imigração?”, questionou Thornberry.

Um dos vários setores já afetados pelo Brexit é, por exemplo, o das plantações agrícolas. O eventual fim da livre circulação de cidadãos europeus e um acordo de saída que pode demorar até dois anos a ser negociado estão já a causar prejuízos.

O presidente da associação britânica de fruticultores, Laurence Olins, garante conhecer “produtores que deixaram de expandir o negócio porque não podem sequer aceitar novas encomendas para as árvores ou plantas que já têm sem saber a força de trabalho que vão ter em 2018 ou 2019 para as colheitas.


Por fim, os derrotados no referendo de há dois meses não desistem de uma eventual segunda consulta. Uma petição oficial na internet recolheu mais de quatro milhões de assinaturas exigindo ao governo a implementação de uma regra em que uma votação sobre a saída ou permanência que consiga menos de 60 por cento de uma participação menor de 75 por cento tenha de ser obrigatoriamente seguida de um segundo referendo. O Governo, para já, resiste à ideia.

Pelo menos sete recursos deram entrada, entretanto, na justiça britânica a exigir que não seja uma decisão do primeiro-ministro mas sim o Parlamento a votar a ativação do artigo 50 do Tratado de Lisboa, o momento em que o processo do “Brexit” será aberto de forma oficial.


(Nigel Farage: “Se o ‘poder estabelecido’ pensa que pode voltar a costurar o ‘Brexit’ então é melhor estarem preparados para as enormes consequências eleitorais.”)


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