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2 de ago. de 2016

Espanha - Sánchez mantém-se no não e Rajoy continua isolado

Mariano Rajoy e Pedro Sánchez estiveram reunidos durante uma hora, mas não houve avanços para desbloquear o impasse político


DN, 02 de agosto de 2016. 



Hoje o encontro é com Albert Rivera, do Ciudadanos. Cenário de novas eleições começa a ganhar força. Líder do PP continua sem confirmar se aceitará submeter-se à investidura

Quase uma hora depois de apertarem as mãos para a fotografia e de fecharem a porta deixando cá fora os jornalistas, Mariano Rajoy e Pedro Sánchez saíram da sala de reuniões. Nem uma única peça parece ter-se movido no tabuleiro do xadrez político em Espanha.


O secretário-geral do PSOE continua a dizer que não ao líder do Partido Popular nas negociações para a formação de governo. Este foi o segundo encontro entre os dois políticos desde as eleições de 26 de junho e o primeiro desde que o rei Felipe VI encarregou Rajoy de tentar formar governo.


Depois da reunião, o líder do PP sublinhou que seria um "disparate" e um "ridículo internacional" se Espanha se visse obrigada a realizar as terceiras eleições em menos de um ano, mas frisou que essa será a única saída caso não haja algum tipo de compromisso por parte do PSOE.

Sánchez disse que estava "mais preocupado" à saída do que antes de entrar. "Nós, na esquerda, dizemos às direitas para que se entendam. Já lá vão 35 dias desde as eleições e Rajoy até agora não conseguiu somar um único apoio mais aos seus deputados. Exigimos que se ponha a trabalhar e que comece a negociar com os seus aliados potenciais", sintetizou o socialista. "O PSOE não vai estar em nenhuma grande coligação. Não vamos apoiar aquilo que queremos mudar", acrescentou ainda o secretário-geral.

A ideia de Sánchez é que Rajoy tente somar aos seus 137 deputados os apoios do Ciudadanos, dos independentistas catalães (Convèrgencia) e dos nacionalistas bascos (PNV) e canários (Coalición Canaria). Não será fácil este caminho porque dificilmente Rajoy celebrará um acordo de governo com partidos que querem pôr em causa a unidade espanhola.

E também não parece provável que Sánchez venha a mudar de posição. "Com exceção de algumas vozes isoladas, os militantes do PSOE e os eleitores não querem que apoiemos o PP". Uma dessas vozes é o ex-primeiro-ministro Felipe González que já por diversas vezes fez declarações pedindo a Sánchez que se abstenha. Ainda nesta semana, em entrevista ao argentino Clarín, o ex-líder sublinhou que Rajoy, "ainda que não o mereça, deve ser investido como primeiro-ministro".

O líder do PP continua sem esclarecer se aceitará submeter-se à investidura. E em relação a uma possível data para o debate também continua a fechar-se em copas. "A investidura serve para formar governo e a sensação que tenho é que o senhor Sánchez a reclama para que não haja governo", disse Rajoy.

A responsabilidade de marcação do debate cabe à presidente do parlamento. Ontem, em declarações aos jornalistas, Ana Pastor esclareceu que está "à espera" do desenrolar das negociações e do que lhe for sendo transmitido por Rajoy, relembrando que o seu antecessor, Patxi López, concedeu um mês a Pedro Sánchez na legislatura anterior.

Hoje será a vez de Mariano Rajoy receber o líder do Ciudadanos. Albert Rivera já esclareceu que votará contra na primeira sessão de investidura, que se absterá na segunda e que nada o fará alterar esta decisão.

De acordo com a lei espanhola, o candidato a primeiro-ministro necessita de maioria absoluta na primeira votação. Caso não o consiga, os deputados são novamente chamados a votar 48 horas, bastando, desta vez, uma maioria simples - mais sins do que nãos. A partir desse momento começa uma contagem decrescente de dois meses. Se no fim desse período ninguém tiver conseguido reunir os apoios necessários para formar governo, Felipe VI será obrigado a dissolver o parlamento e a convocar novas eleições.

Outros tempos

Na Espanha democrática, desde 1978, nunca houve governos de coligação, mas Felipe González, do PSOE, e José María Aznar, do PP, foram obrigados a negociar apoios para a investidura.

Em 1993, os socialistas venceram as eleições pela quarta vez seguida, mas sem maioria absoluta, tendo conseguido apenas 159 deputados. Depois de negociar apoios, González conseguiu passar na primeira votação com 17 votos a favor dos catalães da Convergència i Unió (CiU) e 5 do PNV.

Três anos mais tarde, foi a vez de José María Aznar ver-se obrigado a fazer contas. A 3 de março de 1996 o Partido Popular vencia as eleições legislativas pela primeira vez na história, mas, com 156 deputados, ficava a 20 de distância da tão desejada maioria absoluta. Sem garantias de que seria capaz de congregar apoios, Aznar - ao contrário do que agora se passa com Rajoy - aceitou submeter-se à investidura e pôs mãos à obra no diálogo com outros partidos. Um dos dirigentes do PP então envolvido nas negociações com as outras forças tinha 40 anos e chamava-se Mariano Rajoy.

Naquele que ficou conhecido como o pacto do Majestic, em alusão ao hotel onde decorreu a reunião decisiva, o PP conseguiu garantir o sim da CiU. A esses 16 votos, Aznar juntou ainda mais 5 do PNV e 4 da Coalición Canaria, tendo sido investido a 4 de maio.

No caso de Rajoy, para já, tudo parece mais difícil e o cenário de novas eleições começa a ganhar força. Mas em política a qualquer momento alguém pode decidir movimentar as peças que parecem coladas ao tabuleiro de xadrez.


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