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30 de mai. de 2016

Rumo a uma Nova Civilização

Autor: Carl Teichrib, Forcing Change, Volume 8, Edição 8.


Nota: Redigi este ensaio um ano e meio atrás como um capítulo de um livro que planejei escrever. Entretanto, o projeto do livro não se confirmou e este "capítulo" terminou como um arquivo não aproveitado, armazenado no disco rígido de meu computador, porém nunca esquecido. Após fazer uma nova leitura do texto semanas atrás, notei a importância das informações e achei que valeria a pena apresentá-las.
O contexto está um pouquinho diferente. O ensaio deveria ser um instantâneo de um ano de minhas descobertas com as pesquisas realizadas no ano de 1995. Embora esse ponto de referência continue dominante no artigo, fiz uma revisão no texto — que de certa forma ainda é um rascunho —, removi as referências sobre aquele ano e acrescentei informações sobre a ideia de "Unicidade". Isto pode ter deixado o texto um pouco desconexo, pois "1995" não entra no quadro imediatamente.
Entretanto, é minha esperança que este ensaio o ajude a compreender melhor a vastidão e as possíveis consequências da mudança de cosmovisão que está ocorrendo no mundo atualmente. Ao mesmo tempo, ele lhe dará uma pequena visão de minha própria história de pesquisa e descobertas.
"Mude tantos elementos sociais, tecnológicos e culturais de uma só vez e você criará, não apenas uma transformação, não apenas uma nova sociedade, mas, no mínimo, o início de uma civilização totalmente nova." — Alvin e Heidi Toffler, Creating a New Civilization [1].
Uma "revolução da civilização" está ocorrendo e, como em muitas outras agitações sociais importantes, a velha ordem tem de ser varrida para longe. Neste caso, a velha ordem é a estrutura da sociedade ocidental: a cosmovisão judaico-cristã. À medida que a velha ordem é colocada de lado, assim também as distinções que ela produziu precisam ser reconfiguradas: a independência das nações, a livre iniciativa, a importância da propriedade privada, a ação individual, a importância da individualidade e a centralidade da unidade familiar. Essas distinções produzidas precisam ser reestruturadas em um empreendimento mundial mais harmonioso, governança global, trabalho em prol do bem maior, compartilhamento dos recursos para o bem comum, pensamento de grupo, moral orientada pelo consenso e estruturas sociais alinhadas com as ideias "democráticas" politicamente corretas, em vez das noções patriarcais da família tradicional.

Uma nova cosmovisão está surgindo que dá ímpeto a esses conceitos "planetários corretos": a Unicidade — a ideia que a humanidade, a natureza e a divindade são uma coisa só. Este é o sistema de crenças central que está por trás dos mitos religiosos dos tempos antigos e das novas "narrativas da realidade" que estão tentando moldar o tempo presente. De seu próprio modo, o secularismo fala desse ideal místico de colocar a humanidade no trono do materialismo, moldando a evolução e, como o secularista Julian Huxley explicou, gerando a consciência que permitirá ao universo se tornar ciente de si mesmo. [2]. E é nisto que o secularismo e o Humanismo Cósmico, melhor conhecido como Movimento de Nova Era, se encaixam na criação essencial da Unicidade: o Homem é Deus e, como a humanidade é uma parte da "natureza", a natureza precisa ser reconhecida como uma divindade. Em outras palavras, somos os criadores e projetistas de nosso próprio destino e a Terra, como um elemento natural de nossa divindade, dá significado às nossas vidas. A "salvação" é alcançável se nos unirmos e colocarmos nosso poder coletivo para forçar a criação do mundo que queremos. Além disso, esse mundo refletivará nossa visão de uma realidade baseada na unicidade.

A cosmovisão acima é agora desmedida no mundo ocidental. Além do mais, por causa de sua proposição central, ela exige uma "transformação total" da civilização. Ela requer uma mudança para uma forma social, religiosa e politicamente entrincheirada de "unidade" global. pois "Tudo está contido em Todos e Tudo É Um." [3]. A exclusividade e separação cristãs — que Deus é distinto da natureza e que nem a humanidade nem a criação podem se igualar ao Criador — é considerado um anátema para os sacerdotes da Unicidade. A crença tradicional e "arcaica" não pode mais ser tolerada, pois proclama que Deus está exaltado e destrona a humanidade. Ela nos afasta dos sonhos de salvação inspirada pela própria humanidade. Assim, a visão cristã de um Deus distinto com nossa própria imagem global auto-declarada — é uma afronta direta à "unidade cósmica" da Unicidade. Além disso, os aspectos acima mencionados da cosmovisão cristã são um lembrete preocupante que esse padrão mais elevado existe.



Transição Global.


Os futuristas Alvin e Heidi Toffler (fotografia à direita) observaram que uma transição global estava produzindo "novos estilos de família", mudava os modos de trabalhar, de amar e de viver, produzia uma nova economia, novos conflitos políticos e, acima de tudo, criava também uma consciência alterada." Como eles entusiasticamente escreveram em seu livro de 1995, "O que está acontecendo agora não é nada menos que uma revolução global, um salto quântico". Esta vindoura nova ordem, os Tofflers reconheceram ao comparar outros períodos de transição, "não descarta a possibilidade de violência ao longo do caminho para o amanhã... Hoje, os riscos são muito maiores, o tempo mais curto, a aceleração mais rápida, os perigos ainda maiores."

Receio que a dupla Toffler possa estar correta que o conflito e as transições históricas caminhem de mãos dadas. Entretanto, quanto ao desapontamento dos Tofflers, "cegos em toda a parte estão tentando suprimir essa transição", [4] isto não é perfeitamente exato. "Cegos" não estão tentando suprimir, pois a maioria está cega para o que está acontecendo.

O dilema é que a maioria das pessoas, incluindo as cristãs, ignoraram tudo isto, para seu próprio risco. Década após década, os agentes da transformação marcharam e tamparam nossos ouvidos para a batida dos tambores. Ou pior, nós nos tornamos participantes ativos, papagaiando a "linha do partido" de uma intelligentsia global e aceitando sua promessa de salvação induzida pela própria humanidade. Hoje, muitos líderes cristãos seguem este caminho. Um exemplo é Brian McLaren, uma figura influente em certos círculos cristãos, cujo livro Everything Must Change ("Tudo Precisa Mudar") advoga uma rota alternativa para a justiça. Ele sugere seguir o caminho delineado por Jim Garrison, fundador da Fundação Gorbachev nos EUA e presidente da Wisdom University. O que Garrison recomendou? Um sistema político internacional baseado na governança global, que é então repassado por McLaren aos seus leitores. McLaren dá os créditos para a fonte de sua ideia, o que é importante, pois nos permite rastrear de onde veio sua inspiração. [5] Neste caso, de Jim Garrison. Mas, quem inspirou Garrison e o que a cosmovisão dele oferece?



Garrison, filho de missionários cristãos na China durante a revolução comunista de Mao, foi mais tarde atraído para os ensinos místicos e evolucionários de Pierre Teilhard de Chardin, para o Instituto Esalen com seu humanismo progressista, filosofias ocultistas e sociedades esotéricas e para a cosmovisão marxista-leninista de Mikhail Gorbachev. [6]. Não é maravilha que Garrison tenha falado do "governo mundial" ao San Francisco Weekly em 1995: "Nos próximos 20 ou 30 anos, teremos o governo mundial. É inevitável." Quando questionado sobre o papel do conflito em termos de governo mundial, ele respondeu:

"Haverá conflito, coerção e consenso. Isto é parte daquilo que será necessário à medida que trouxermos à luz a primeira civilização global." [7].


Alguns anos após a entrevista para o San Francisco Weekly, Garrison deixou claro que os padrões judaico-cristãos tradicionais precisam ser substituídos. Descrevendo que as fés monoteístas "praticaram dano real ao planeta porque têm respostas demais", Garrison disse que preferia "viver nas perguntas". Ele se explicou melhor: "Durante tempos de transição, as ortodoxias caem e os heréticos e os 'leões solitários' são aqueles que criam a nova ortodoxia." [8].

No exemplo de Garrison e McLaren, vemos como a ideia de um mundo unificado é apresentada para uma audiência cristã por meio dos escritos de uma personalidade famosa. McLaren, papagaiando Garrison, recomenda colocar a justiça nas mãos do crescente movimento da sociedade civil, uma rede de grupos de interesse especiais que então "moldarão a opinião pública... e, quando necessário, levarão as pessoas para as ruas". Essa "justiça social", de acordo como o teólogo da Igreja Emergente, será parte de uma estrutura que prevê uma interdependente e mutuamente comprometida comunidade global de comunidades". [9]. Isto é governança global. Por ingenuidade ou por intenção, e acredito que ambas existam na comunidade cristã atual, a igreja está repleta de líderes que copiam as respostas do mundo.
Esta é uma grave realidade, mas os líderes cristãos que ocupam os púlpitos, os seminários e as organizações paraeclesiásticas estão participando na destruição do Cristianismo ao aceitarem a noção que a sociedade é absoluta. [10]. Problemas corolários derivam a partir desse erro, incluindo riscos reais para as liberdades. Quando a inclusividade "imposta politicamente" é exigida para garantir um "mundo unificado", frequentemente desfraldando o estandarte da justiça social, então o fulcro da liberdade é destruído. Por sua vez, as afirmações de verdade exclusivas, os valores tradicionais e a propriedade privada se tornam buchas de canhão sacrificais para o "bem comum".

Como diz um documento da UNESCO: "Fortalecer a ideia de uma civilização mundial fornecerá o estágio para comunicar, interagir, associar e rejeitar aquilo que não se encaixa nos códigos globais. As pessoas precisam se tornar cidadãos da Terra, não de uma única cultura." [11; itálico adicionado].

Doutrinação como Educação

Por volta de 1995 eu tinha alcançado um ponto em minha pesquisa, que tinha iniciado alguns anos antes. Devo permanecer calado com relação a tudo o que aprendi, considerando que esse esforço foi simplesmente uma busca por conhecimento pessoal? Ou, dou um passo à frente e abro minha boca? A ideia de tentar ser uma voz no "mercado de ideias" era dantesca. Entretanto, uma série de textos e documentos poderosos caíram em minhas mãos naquele tempo, abrindo meus olhos para a profundidade dessa revolução. Como eu poderia permanecer calado?

O primeiro par de itens veio de uma fonte local: dois livros-textos usados em meus anos do Ensino Médio durante o início dos anos 1970s — I Am A Sensation e The Environmental Handbook.

I Am A Sensation ("Sou uma Sensação") promovia uma visão esotérica da unidade humana por meio de uma série preocupante de poemas, figuras e contos. Cartas do tarõ e símbolos de adivinhação do I-Ching adornavam as páginas, junto com imagens gráficas que ilustravam a luta cósmica do nascimento e ascensão do Homem, interações com semideuses e demônios, e ilustrações da morte e da transformação. Temas do transumanismo utópico, a ideia do Homem moldar a evolução por meio da tecnologia e esta, por sua vez, remoldando o Homem, apareciam em palavras e figuras. As linhas de um poema previam: "Eu gosto de pensar (tenho de existir!) em uma ecologia cibernética onde estamos livres dos nossos trabalhos e unidos em torno da natureza, de volta para nossos irmãos e irmãs mamíferos, e todos observados por máquinas de graça amorosa." [12]. Um pouco mais adiante no livro, debaixo de um hexagrama do I-Ching que representava a ablução antes do sacrifício e o Homem Superior observando seus súditos, [13] uma seleção do texto provocativamente introduzia o assunto do controle populacional.


"Pense nisto: quando temos gente demais, temos de diminuir o número. Uma forma de conseguir isto é evitar que alguns nasçam. Já fazemos isto. Outra forma é descartar alguns que já nasceram. Temos de aprender a fazer isto agora. Guerras, fomes, doenças e acidentes sempre foram suficientes. Mas, agora que estamos melhores em nos mantermos vivos, parece que teremos de nos tornar melhores em matar. Fazer um pequeno esforço adicional para obter um pouco mais de espaço adicional."

"Quem melhor para dar do que aqueles que são jovens, saudáveis e fisicamente vigorosos — e que administram o poder, é claro."

"Quem melhor para receber do que aqueles que são idosos, incapacitados ou doentes."
POR VOLTA DO ANO 2000: EUTANÁSIA.
"Isto é o que ser idoso poderá significar. No ano 2000, qual será sua idade?" [14].

Observe que nas linhas acima, "quem melhor para dar" e "quem melhor para receber", não estão formadas como perguntas; são afirmações.

O Environmental Handbook foi o segundo livro-texto do Ensino Médio e também promovia conceitos radicais. Esse livro, destinado a ser um recurso para professores e alunos, foi lançado como um texto fundamental para aquilo que se tornou o Dia da Terra inaugural, em 22 de abril de 1970. Um dos colaboradores para o The Environmental Handbook, foi Paul Ehrlich, o guru do controle populacional. Ele descreveu uma série apocalíptica fictícia de catástrofes ecológicas, começando em 1973; desastres causados por névoa misturada com poluição atmosférica matando centenas de milhares em Nova York e Los Angeles, o cinturão dos grãos no meio-oeste americano se tornando um gigantesco deserto e a subsequente destruição dos estoques de alimentos, "superdependência" química na agricultura que resulta em dezenas de milhões de mortes, enormes mortandades entre os pássaros e a vida marinha, "tremendas mudanças nos padrões do clima", a extinção de "toda vida animal importante no mar", colapso global do setor de recursos e uma guerra logo em seguida pela disputa de recursos entre Rússia e China — por volta de outubro de 1979. De acordo com o cenário, "a poluição acumulada no ar tornaria o planeta inabitável antes de 1990." [15].

Essas imagens mentais produzem resultados: incitam o medo e despertam as emoções das pessoas jovens, criando assim uma nova geração de agentes de transformação.

A ideia de modificar a ação humana para impedir a catástrofe ambiental era desmedida no livro-texto. O comportamento precisaria mudar, coletiva e individualmente, ou o mundo chegaria a um fim catastrófico. Com isto em mente, The Environmental Handbook incentivava abertamente a esterilização da população e medidas de controle, incluindo o controle da natalidade gratuito para os jovens [16] e incentivava o casamento em grupo e o casamento poliândrico (a poliandria é quando uma mulher tem múltiplos maridos ao mesmo tempo). [17]. "A liberdade de procriar é intolerável... A liberdade de procriar trará a ruína para todos nós", dizia um ensaísta. [18] Outro autor colaborador explicava por que "é pecaminoso alguém ter mais do que dois filhos".

Há muito tempo que se tornou claramente evidente que, a não ser que o canceroso crescimento da população possa ser detido, todos os outros problemas — pobreza, guerra, conflitos raciais, cidades inabitáveis, e tudo o mais — são insolúveis." [19].

O texto dizia que "as nações precisam se tornar obsoletas o mais rapidamente possível" e "a concorrência (o capitalismo) precisa se tornar obsoleto e substituído por modelos econômicos cooperativos". [20].

A transformação global completa deveria ser o objetivo; "Nada menos que a transformação total fará muito bem." [21]. Uma sugestão era organizar a humanidade em torno de um "tipo de conselho tribal mundial" [22] e o ensaísta John Fisher fez uma pergunta reveladora: "Que preço a maioria das pessoas estará disposta a pagar por um tipo de organização humana mais durável — mais impostos, abrir mão de suas bandeiras nacionais, talvez até o sacrifício de algumas de suas liberdades arduamente conquistadas?" [23].

A religião também era parte da mensagem do Environmental Handbook. Na verdade, as três primeiras páginas apresentavam o lado cósmico da luta revolucionária em um modo espiritualmente imaginativo: um "Grande Sol Buda" figura-herói manifestada como o "Urso Smokey". Nesta Sutra, o sertão era descrito como o "Dharma e o Verdadeiro Caminho do homem na Terra.", como tudo da natureza — o "Céu Azul e a Terra Verde" — contidos em "Uma Mente". O continente americano, descobrimos, está cheio de pessoas que "praticamente arruinaram tudo". Portanto, "Smokey", o Sol Buda, cercado pelos devastadores incêndios na floresta da era apocalíptica-hindu de Kali-Yuga, calcará as "custosas rodovias e os bairros de classe média desnecessários, esmagando os vermes do capitalismo e do totalitarismo". Aqueles que amam Smokey e a Terra viverão; aqueles que os difamam ou atrapalham, "NÓS OS COLOCAREMOS PARA FORA". [24; maiúsculas no original].

Este é um urso e tanto.

Como todas as revoluções importantes precisam de algo para derrubar de modo a fazer surgir um novo paradigma, esta revolução procura desmantelar o Cristianismo. Os estudantes foram então armados com o ensaio de Lynn White Jr., intitulado "As Raízes Históricas da Nossa Crise Ecológica". Deplorando a vitória medieval da "teologia judaico-cristã" sobre o paganismo, com sua destruição do animismo e o "espírito de indiferença aos sentimentos dos objetos naturais", White categoricamente declara que "mais ciência e mais tecnologia não vão nos tirar da atual crise ecológica até que encontremos uma nova religião, ou repensemos nossa antiga religião". [25]. Ele acrescenta:

"Nenhum conjunto de valores básicos foi aceito em nossa sociedade para desalojar os valores do Cristianismo. Portanto, continuaremos a ter crises ecológicas cada vez piores até que rejeitemos o axioma cristão que a natureza não tem razão de existir, exceto a de servir ao homem."

"... Como as raízes do nosso problema são tão grandemente religiosas, o remédio precisa tambérm ser essencialmente religioso, queiramos nós chamá-lo assim ou não. Precisamos repensar e sentir novamente nossa natureza e nosso destino." [26].

Um novo sistema de crenças aceitável para um planeta ecologicamente unificado era necessário e, se uma nova religião pudesse ser encontrada, então o Cristianismo precisava ser suplantado por cosmovisões diversas e inclusivas. O Manual dava algumas sugestões.

"Parece evidente que existem em todo o mundo certas forças sociais e religiosas que trabalharam em toda a história para criar um estado de coisas ecológica e culturalmente esclarecido. Que os seguintes sejam incentivados: Gnósticos, marxistas engajados, Teilhard de Chardin, druídas, taoístas, biológos, bruxos, iogues, quacres, sufistas, budistas tibetanos, zen budistas, xamãs, mateiros, indígenas americanos, polinésios, anarquistas, alquimistas... a lista é longa. Todas as culturas primitivas, todos os movimentos comunitários e os ashrams hindus. Como não parece prático ou até mesmo desejável pensar que direcionar forças sanguinárias alcançará muito, seria melhor considerar isto uma 'revolução de consciência' contínua que será ganha não por armas, mas tomando as imagens fundamentais, mitos, arquétipos, escatologias [sic] e êxtases para que a vida só pareça digna de ser vivida se a pessoa estiver ao lado da energia transformadora." [27].

Quando comprei um exemplar deste livro em 1995, descobri que ele tinha sido usado em centenas de escolas no Canadá e nos EUA. Hoje, milhões de pessoas em todo o mundo celebram anualmente o Dia da Terra, em 22 de abril, sutilmente e não tão sutilmente imitando o ritmo dado em seu roteiro original: o livro The Environmental Handbook. Atualmente, o Dia da Terra é considerado por muitos como o maior feriado secular de todo o mundo. Na verdade, ele é uma celebração religiosa. O falecido ator James Coburn disse o seguinte ao ser entrevistado por Caryl Matrisciana durante o festival Dia da Terra, na Praia de Malibu, em 1990:

Caryl Matrisciana: "Sr. Coburn, por que devemos nos preocupar com o Dia da Terra ou com a Mãe Terra?"

James Coburn: "A Mãe Terra é a nossa Mãe! Ela é a Deusa-Mãe. Deveríamos louvá-la, em vez de estuprá-la. Todas estas pessoas estão aqui hoje por uma razão; elas estão preocupadas com o que está acontecendo com a Terra, com aquilo que a humanidade está fazendo com a Terra. Todas as emoções negativas que carregamos por aí também contribuem para o problema. Tudo isso alimenta a Lua. O que temos de fazer é sermos verdadeiros conosco mesmos; se formos verdadeiros conosco mesmos, seremos verdadeiros com a Mãe Terra. A Mãe Terra será generosa. Ela nos dará tudo que necessitarmos. Ela tem feito isso há muito tempo. Perdemos o nosso rumo. Os pagãos sabiam como lidar com a terra e alguns índios ainda se lembram de como fazer. A Terra é um organismo vivo. Estamos matando a quem mais amamos e quem também nos ama. Temos de louvar nossa Deusa-Mãe!" [28].

Rumo a uma Constituição Verde Global

Muitos outros materiais caíram em minhas mãos em 1995, a maioria a respeito de ambientalismo como um modificador de paradigma.

Um desses materiais foi o relatório da Conferência Econômica, da Energia e do Meio Ambiente de 1990, patrocinada pelo governo da província canadense de Manitoba, UNESCO [20] e o Conselho Internacional das Associações para a Educação Científica, o tema do evento era "Estratégias de Desenvolvimento Sustentável e a Nova Ordem Mundial" [30].

Mais de 3.000 delegados e representantes de alto nível de todo o mundo compareceram para estudarem melhor os temas econômicos, de gestão e educacionais relacionados com o desenvolvimento sustentável. O propósito? Finalizar um protocolo ofical de Manitoba sobre o meio ambiente e, assim, influenciar o então vindouro Encontro da Terra das Nações Unidas, no Rio de Janeiro, e identificar os objetivos de currículo e estratégias de ensino para a apropriada cidadania global, que seria repassada para o projeto UNESCO 2000+.

O título do relatório final espelhava o tema da conferência, "Desenvolvimento Sustentável para uma Nova Agenda Mundial". O capítulo 2 me causou calafrios: "Rumo a uma Constituição Verde Global".

"A questão não é se uma política global é necessária. A questão é como alcançar os acordos vinculantes na Lei, completos, com programas eficazes para aplicar sanções contra a não adesão, que obriguem cada nação, independente de seu tamanho, a viver segundo um conjunto de princípios que são necessários para garantir a sobrevivência da vida no planeta. Talvez descubramos que não há outra alternativa para um sistema de controles rígidos que alguns comparam a um Estado policial. Infelizmente, de modo a salvar o planeta do biocídio, deverão existir restrições muito poderosas contra a prática de coisas erradas. As restrições precisam transcender as fronteiras nacionais, ter alcance mundial e poder de serem impostas. Haverá a necessidade de uma agência para impedir que os vândalos ecológicos atuem de forma unilateral." [31].

Uma agência de imposição aceita globalmente, o capítulo explicava, "precisará ter o poder de atuar sem ser convidada pela nação ofensora." A desobediência implicará na aplicação de sanções, mas "se as sanções não funcionarem, então a ocupação física e a instalação de uma Curadoria Mundial será imposta sobre as nações infratoras."

A parte central do Cap. 2 era a ideia de uma "Constituição Verde Global", um contrato ético e juridicamente legal para a cidadania global. A Constituição precisaria ser a expressão política mundial de um novo sistema de valores radical, valores que garantam uma sociedade sustentável..." [32].

Sob o subtítulo de "Justiça Social", foi explicado que essa nova ética entronizaria o "princípio da igualdade econômica global" por meio de um sistema de "Contabilização da Energia" com quantias pré-determinadas e calculadas de energia alocada para cada ser humano. Recursos como o petróleo já chegaram ao pico de produção, é o que dizem, e um sistema verde inovador de contabilização é necessário para o planeta — mais ou menos como proposto pelo Movimento Tecnocrático dos anos 1930s. [33] Além do mais, se quisermos tornar essa arquitetura da "Justiça Social" eficiente e viável, então uma "política global de uma criança por família" terá de ser implementada. [34].

Proteger o planeta era da mais alta importância; zonas desabitadas teriam de ser estabelecidas; afinal, "é a população humana que precisa de gestão, não a vida selvagem." [35]. E a tolerância, de acordo com esta seção do relatório da conferência, seria imposta como um "direito humano".

"Popular ou não, os governos verdes se oporão a qualquer cultura se ela provar ser preconceituosa por razões de gênero, idade, cor, etnia, religião, crença, orientação sexual, condição física ou mental, estado civil, composição da família, fonte de renda, crença política, nacionalidade, preferência de idioma, ou lugar de origem." [36].

Foi sugerido que essa Constituição Verde Global seria assinada pelos Estados nacionais e pelas Nações Unidas, com a ONU recebendo poderes sobre "os comuns globais" — pesca no oceanos e na costa, as montanhas submarinas, águas transfronteiras, a atmosfera e o espaço.

O Cap. 2 também colocava uma forte ênfase na educação das crianças. "Um esforço educacional maciço e persuasivo é necessário para desenvolver uma perspectiva global entre os povos de cada Estado-nação. O grau de dedicação de cada nação em educar seu povo será a primeira indicação de um governo verde." [37].

Outras partes do relatório ecoavam a importância da educação: "Necessidade de currículo para enfatizar a educação de valores, incorporando — com base em uma necessidade de saber — conhecimento, aprendizado e habilidades conceituais."

A tarefa dos educadores terá, portanto, de ser reconfigurada: "O papel dos professores inevitavelmente terá de mudar. Eles terão de se tornar mais envolvidos em facilitar transformações de atitudes e em guiar os estudantes na assimilação de valores..." [38].

Aqui, houve na conferência uma introdução ao conceito de "Um Mundo Unificado", o resultado derivado da cosmovisão da unicidade, formado como um governo global de estilo coercitivo operando sob o pretexto de deter a deterioração ambiental em todo o planeta, junto com uma ordem econômica de energia verde e orientada pela Tecnocracia, distribuição da riqueza em nome da Justiça Social, [39] o politicamente correto imposto sob o disfarce dos "direitos humanos" e a modificação das crenças e valores para se encaixarem com esta Nova Era.

Governança Global


1995 também marcou a introdução de outro documento. Embora o relatório da Conferência Econômica, da Energia e do Meio Ambiente fosse alguns anos mais antigo, o fato que eu o descobri em 1995 acrescentou peso para aquilo que um grupo patrocinado pela ONU estava pregando. O relatório Our Global Neighborhood (Nossa Vizinhança Global), produzido pela Comissão Sobre Governança Global, fez sua estreia naquele ano, para o entusiasmo da comunidade internacional. A pequena, porém vigilante comunidade de pesquisadores conservadores, rotulada como "teóricos da conspiração", pela grande mídia, reconheceu que aquele era um momento para vindicação. As preocupações com a "ordem mundial" não eram infundadas. O relatório Our Global Neighborhood foi publicado pela editora da Universidade de Oxford, tornou-se disponível para o público e falava muito sobre internacionalismo. Como um comentarista conservador observou em uma palestra em 1996, com um pequeno toque de sarcasmo:

"Estou contente em reportar hoje, que todas aquelas teorias da conspiração podem finalmente ser colocadas para descansar. A Comissão Sobre Governança Global patrocinada pela ONU completou seu estudo de três anos e anunciou agora publicamente seus planos para implementar a governança global por volta do ano 2000. Não há virtualmente perigo, ou necessidade, de uma invasão por helicópteros pretos..." [40].

A governança global total não se materializou no ano 2000, mas Our Global Neighborhood foi um marco importante no sentido que forneceu direção para a comunidade internacional. O objetivo do gerenciamento por meio do fortalecimento da ONU recebeu um ponto de referência. Agora, quase duas décadas depois, o trabalho da Comissão ainda é lembrado por sua contribuição. Mas, é claro que seria, pois a Comissão foi estabelecida como uma significativa "parada de trânsito" na estrada para a ordem mundial.

De acordo com a Comissão:

"O desenvolvimento da governança global é parte da evolução dos esforços humanos para organizar a vida no planeta e esse processo sempre estará em andamento. Nosso trabalho não é nada mais do que uma parada de trânsito nessa jornada." [41].

Logo de início, o relatório da Comissão explicava que "a governança global não é governo global". Entretanto, o resto do documento de mais de 400 páginas delineava o que seria, em efeito, "o governo global" — uma autoridade internacional fortalecida por meio de regimes de tributação mundial (incluindo um imposto do carbono e um imposto sobre as transações em moeda estrangeira), uma Assembleia Parlamentar Mundial, um Tribunal Penal Internacional (que entrou em vigor em 2002), o primado da Lei Internacional, e uma Força de Voluntários das Nações Unidas efetiva. Tratados ambientais seriam impostos por meio de um remodelado Conselho de Segurança Econômica da ONU, e o Conselho de Segurança seria expandido em sua abrangência e tamanho. Tudo isto foi apresentado como necessário para uma nova ética global. [42].

Considerando o que está acima, qual é a diferença entre "governança global" e "governo mundial"?

A primeira é considerada uma ação voluntária por meio da qual as nações colocam suas soberanias sob um sistema de tratados e convenções. É uma abordagem lateral com governos e grupos de interesses especiais que se tornam "participantes" — trabalhando em causa comum sob uma estrutura acertada em um acordo e dentro de uma estrutura diretora conjunta, com financiamento vindo dos cofres públicos. Vindo junto com os governos nacionais estão as organizações não governamentais (ONGs) reconhecidas internacionalmente, tornando-se a "consciência" de fato da comunidade global. Vinculando isto junto está uma agência facilitadora — uma comissão das Nações Unidas — que regularmente traz esses participantes a uma mesa para elaborarem normas internacionais, com filtragem de decisões no sistema operacional dos governos nacionais participantes. Em seguida, a administração federal interpreta a agenda para se encaixar dentro de seu próprio sistema, e a distribui para as repartições públicas nacionais e nos níveis locais e estaduais dos governos. Em pouco tempo, todos estarão usando a mesma linguagem — desde os departamentos federais até os comitês nas cidades e as diretorias escolares — todos expressando alarme com a crise global comum, e cada um desenvolvendo programas para "mudar comportamentos e valores" de um modo que reflita "aquilo que o mundo deveria ser".

Mark Edward Vande Pol, um ex-planejador da Agenda 21 para o Condado de Santa Cruz, na Califórnia, descreve o resultado final do seguinte modo:

"Você nunca verá isto. Você nunca votará nisto. Não importa qual caminho elas usem, as agências podem redigir novas regulamentações sob a ameaça de processos judiciais e rapidamente essas regulamentações se transformam em regras administrativas a serem impostas sem legislação." [43].

O governo mundial, por outro lado, é um sistema vertical com um poder executivo ou ditadura sobre uma hierarquia administrativa. Sob um governo mundial federalista, esse executivo trabalhará em paralelo com outras entidades legais — uma constituição, um parlamento, e um tribunal mundial — seguido por um grupo de agências especializadas. As nações ainda serão mantidas, junto com os governos estaduais, provinciais e municipais. Na verdade, essas unidades menores permanecerão ativas com um grau de autonomia baseado no princípio de subsidiariedade, a ideia que a gestão política é melhor exercida no nível mais baixo; aquilo que pode ser feito localmente, deve ser feito localmente. Entretanto, a subsidiariedade opera dentro do contexto mais amplo do "bem geral". Portanto, a subsidiariedade não nega o Governo Mundial. Ao revés, ela se torna um conduíte para camadas efetivas de poder e alcance políticos. A camada superior, neste caso, não seria um comitê de participantes, como encontrado na governança global, mas em um poder executivo.

Finalmente, a governança global e o governo mundial reduzem ambos a independência nacional, tendem a violar a propriedade privada, e reduzem a liberdade em nome da segurança, unidade e igualdade. Henry Lamb, um pesquisador político já falecido que monitorava os acontecimentos na governança global, descreveu a variação entre os dois sistemas como "a diferença entre estupro no namoro e estupro... um inicia com sedução; ambos terminam em violência." [44].

Reação Rápida

Em setembro de 1995, contactei o Departamento Canadense das Relações Exteriores, o equivalente ao Departamento de Estado nos EUA. A razão: eu tinha lido uma matéria em um jornal com o título "O conceito de resposta rápida precisa de tempo". [45]. Aquele certamente não era um título que chamasse a atenção, mas a curta matéria falava sobre uma ideia de alcance muito maior — uma iniciativa do governo canadense de dar às Nações Unidas sua própria força militar.

Eu precisava estudar aquele documento, de modo que achei que o melhor modo de obter uma cópia era fazer uma abordagem direta. Telefonei para o departamento responsável. Após fazer minha solicitação, "uma cópia, por favor", a mulher de voz agradável no outro lado da linha alegremente anunciou: "Sua cópia está no correio!" Não poderia ter sido mais fácil.

Intitulado Towards A Rapid Reaction Capability For The United Nations, esse documento do governo do Canadá foi o resultado de um esforço colaborativo. Um Grupo Central foi indicado para dirigir o processo e, ajudando o Grupo Central, estava um Grupo Consultivo Internacional, formado por pessoal da Fundação Ford e do Conselho das Relações Internacionais (o CFR), acadêmicos, ex-diplomatas e membros ativos das forças armadas canadenses e oficiais militares de todo o mundo. O resultado foi uma série de recomendações, incluindo o compartilhamento de informações estratégicas de Inteligência entre estados-membros e a ONU, dando ao secretário-geral um sistema de "alerta de advertência precoce", o estabelecimento de uma sede em nível operacional permanente da ONU", e a criação de um Grupo de Alto Nìvel de Especialistas Tecnológicos para "estudar a aplicação potencial de tecnologias avançadas" em operações militares e de manutenção da paz. [45]

Tudo isto era para servir como a parte estrutural de uma força recém-formada de reação rápida, um elemento de vanguarda de 5.000 homens sob o comando e controle exclusivos da ONU. Recebendo armamentos de arsenais pré-posicionados, essa força de vanguarda atuaria como um tipo de tropa de elite global, intervindo rapidamente nas zonas de crise e, se necessário, seria apoiada por unidades militares convencionais. Além disso, foi recomendado que uma força policial civil da ONU fosse estabelecida em conjunção com o elemento de vanguarda. Financiamento independente da ONU, o documento observava, seria necessário para garantir o sucesso. Portanto, um tributo internacional sobre a transferência de moedas e um "imposto especial sobre as passagens aéreas" foram propostos. Da mesma forma, o sistema da ONU teria de ser fortalecido. O Conselho de Segurança deveria se atrever a ser firme em uma nova era em que a intervenção da ONU, mesmo em disputas internas nos países, não é mais anormal." [47].

A ideia geral me fez lembrar do Federalismo Mundial e das propostas anteriores para a criação de um "exército mundial". Para aqueles que não estão familiarizados com o federalismo mundial, este é um movimento de indivíduos e organizações que buscam a causa do governo mundial baseado nas linhas federalistas — o sistema político ocidental de uma Constituição, representantes eleitos e divisões específicas de poderes. A influência histórica da comunidade federalista mundial tem sido considerável e, desde a Segunda Guerra Mundial, eles promovem a ideia de uma força de segurança internacional em conjunto com uma autoridade política global. Na verdade, o "federalismo mundial" pode ser rastreado até a um período anterior. Por exemplo, Theodore Roosevelt apoiou abertamente o "federalismo mundial" e um "poder de polícia internacional" em seu discurso ao receber o Prêmio Nobel. (Veja na série "Um Mundo, uma Força", uma cronologia sobre este assunto.)

Outros países ficaram interessados na nova política exterior do Canadá. A Dinamarca tomou nota especial [48] e, nos EUA, o senador Paul Simon, do estado do Illinois, apelou para seus colegas apoiarem a iniciativa do Canadá. [40]. Naquele mesmo ano, o secretário-geral da ONU, Boutros Ghali, atualizou seu livro Agenda For Peace (Agenda para a Paz), originalmente publicado em 1992, mas relançado com novos suplementos. O livro recomendava uma "força de reação rápida" como uma estratégia de reserva nas mãos do Conselho de Segurança. [50]. Com o genocídio em Ruanda ainda fresco na memória, o argumento era que uma Força de Reação Rápida era especialmente apropriada naquele momento.

Doze anos após o documento Toward a Rapid Reaction Capability ter sido publicado, tive a oportunidade de conversar com um dos membros do Grupo Central, Peter Langille. Ele foi um palestrante em uma conferência sobre ciência política da qual participei e nos encontramos no saguão. Após discutirmos rapidamente o projeto de Reação Rápida, ele confirmou minha suspeitas anteriores com o Movimento Federalista Mundial. Na verdade, ele foi a voz dos federalistas mundiais que estava por trás da parte "Propostas para o Futuro" do relatório!

No curto período de tempo em que conversamos, eu o achei acessível e genuíno e notei que seu desejo pela paz mundial e estabilidade internacional estava baseado em motivos sinceros. Aqui está um paradoxo: depois de estar lado a lado com os federalistas mundiais em diferentes eventos, verifiquei que muitos deles são pessoas excelentes — e que estão motivados pelo desejo da paz. Mas, a fé deles em uma autoridade mundial e o ímpeto organizado para estabelecer esse tipo de instituição são causa para preocupação. "A estrada para o inferno está pavimentada com boas intenções" não é um ditado sem mérito.

Após estudar durante anos os planos, movimentos, modelos, manifestos, rascunhos de constituição e todo tipo de esquema imaginável do "governo mundial", todos eles têm uma falha em comum — o Princípio do Poder. Como Lord Acton escreveu: "O poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe absolutamente." [51].

Responsabilidade e Direção

O que chegou às minhas mãos em 1995 me deixou perturbado: desde livros escolares como The Environmental Handbook, o relatório da Conferência Econômica, da Energia e do Meio Ambiente Mundiais (WEEEC), até a busca do governo global e uma força militar mundial. Cada um desses demonstrava uma variação de trilhas que seguiam um trajeto similar.

Eu observei que uma revolução desta magnitude não poderia emergir sem bases ideológicas, filosóficas e religiosas; tampouco seria incruenta. Como Arthur Schlesinger Jr. disse em uma declaração que se tornou famosa, ao defender o internacionalismo na edição de julho/agosto da revista Foreing Affairs (do CFR): "Não vamos alcançar uma nova ordem mundial sem pagar por ela com sangue, com palavras e com dinheiro." [52].

Schlesinger estava referenciado os custos militares de um novo internacionalismo. Mas, como a engenharia de produzir essa revolução abrange toda a civilização ocidental, mergulhando-nos em um novo paradigma de unidade global, precisamos ter em mente que algo terá de ser expurgado: a Exclusividade — aquilo que divide, aquilo que não se dobra ao credo da Unicidade.

Aqui estão algumas implicações que podemos considerar:

  • A independência nacional precisará transicionar para a interdependência global. Os objetivos e agendas políticos de alto nível precisam ser coletivos em sua natureza. Países individuais podem ter etnias exclusivas, suas próprias características históricas e geográficas, mas a soberania precisa estar entrelaçada dentro de normas universalmente aceitas. Precisamos todos trabalhar juntos para o bem comum. As regulamentações aumentarão em abrangência e se propagarão à medida que os governos locais, estaduais e federais refletirem o consenso internacional.
  • As afirmações de verdades religiosas exclusivas precisarão dar lugar a uma visão compartilhada: uma "ética global", ou um novo espírito internacional. A divisão precisará ser combatida à medida que adotarmos a solidariedade global.
  • A lei e a justiça passarão a ser guiadas por paradigmas sociais mutáveis e por uma democracia moral também mutável. O politicamente correto orientado pelas massas, que inicia como uma visão social gerada pelos grupos de interesse especiais, moldará aquilo que é ou não aceitável. Cada nação no mundo ocidental seguirá admiravelmente o mesmo padrão de hábitos culturais reconfigurados, demonstrando uma transição internacional nos valores morais.
  • A liberdade, incorporando a iniciativa pessoal precisará dar lugar a uma realidade global, gerada pelo grupo. Liberdade, propósito, significado e salvação social vêm pela submissão ao bem maior. Isto se estende a todos os aspectos da vida, incluindo a família (como dizia o título de um livro escrito pela ex-primeira dama americana Hillary Clinton, "As crianças precisam ser educadas em aldeias").
  • A unidade forma a identidade mais elevada e a interdependência é nossa orientação. Tudo É Um.


Em 1995, comecei a considerar tudo isto acima e a questão para mim era: Por que agora?

Falar com as pessoas na comunidade cristã sobre o "quadro grande" era uma tarefa muito difícil, especialmente por que a maioria não conseguia conectar os aspectos abstratos com os práticos, a não ser que você fosse um soldado ou um estudante. O soldado, por que ele tende a estar na ponta aguda da lança política, entrando nos teatros em que o quadro grande da "ordem mundial" é encenado quase que diariamente. Os estudantes, por que eles estão imersos em um ambiente em que "um mundo unificado" está sendo constantemente pregado. Um outro grupo precisa ser incluído: os proprietários de terras, e não apenas qualquer um que possua propriedade, mas aqueles que lutam diretamente com o crescente número de regulamentações arbitrárias do "desenvolvimento sustentável". Este é o caso particularmente dos fazendeiros, sitiantes, madeireiros, mineiros e outros proprietários impactados pelas designações de "área protegida", frequentemente rastreados pelas comissões e agências regulatórias, grupos ambientalistas, governos federais e, finalmente, pelas declarações feitas nas Nações Unidas.

Mas, o grupo que eu acreditava que mais precisava compreender esta revolução e seu impacto na sociedade — os líderes das igrejas — era o menos inclinado a discutir o assunto. Quando eu apresentava o tópico, como um todo ou em partes, frequentemente era visível que a mensagem não era considerada relevante.

Em certo sentido, posso compreender a reação, pois os pastores estão preocupados com a luta diária com suas congregações locais, com o ensino da Palavra de Deus e com a infindável política na vida da igreja. Nos raros casos em que um pastor não passava os olhos apenas rapidamente, ele quase sempre perguntava: "- Qual é o sentido de conhecer tudo isto que está aqui?" Minha resposta era: "- Para que sua congregação não seja ingênua a respeito de todas as mudanças que estão ocorrendo. Os membros de sua igreja serão desafiados pelas forças que estão remoldando a sociedade e eles precisam estar equipados."

Mas, no fundo de minha mente havia uma resposta menos palatável: "- Para que vocês não se tornem parte do problema." A pesquisa mostrava que os líderes das igrejas são um grupo-alvo especial, frequentemente alavancado para serem agentes de transformação com base na religião, e eram alimentados com frases da moda como "comunidade sustentável", "paz mundial", "responsabilidade global" e "justiça social". Então, em um zelo de salvar a sociedade, eles por sua vez apoiam a governança global como um meio para chegar a um fim. Já testemunhei isto em primeira mão ao ser um observador nos foros e encontros interfé, incluindo o Encontro de Cúpula das Religiões de Mundo em 2000.

Felizmente, conheço alguns pastores que reconhecem os tempos em que estamos vivendo e que com muito tato reagem à transição em direção à Unicidade, procurando edificar e fortalecer suas congregações. Primeiro, ensinando a Palavra de Deus aos seus rebanhos, equipando-os com o conhecimento e sabedoria das Escrituras. Depois, demonstrando como a cosmovisão cristã está sendo desafiada, como isto se manifesta localmente e na arena mais ampla, e fornecendo ideias concretas para manter o rumo à luz desses desafios. Mas, esses pastores parecem ser exceções.

Por volta do fim do ano de 1995 percebi a necessidade de colocar minha pesquisa no domínio público. Assim, no ano seguinte, iniciei um pequeno boletim, intitulado Ground Zero. A base de assinantes era minúscula, porém o boletim chamou a atenção de dois autores cristãos, Gary Kah e Berit Kjos. [53]. Ambos ofereceram comentários e críticas construtivas e me incentivaram a continuar. Na primavera de 1997, minha pesquisa avançou para um patamar superior quando pude comparecer ao Congresso da Juventude Cidadania Global 2000, em Vancouver, na Colúmbia Britânica. Ali, Robert Muller (fotografia ao lado), uma autoridade de alto escalão das Nações Unidas, conhecido como "O Profeta da Esperança", explicou que nós éramos seres divinos e que somente uma humanidade unida poderia salvar o planeta. O governo mundial, uma espiritualidade global, uma ética unificada e centrada na Terra, mais o poder coletivo da nossa vontade como agentes de mudança transformariam o mundo.

Como o livro New Genesis, de Muller explicava, nossa "nova história da humanidade" nos levará para uma era cósmica e trará à luz "o planeta de Deus". [54].

Fiquei profundamente perturbado e, ao retornar para casa, redigi um ensaio sobre aquele encontro, distribuindo-o subsequentemente para os leitores do meu boletim. Gary Kah, por sua vez, republicou meu ensaio no boletim de sua organização.

Naquele mesmo tempo Berit Kjos me perguntou se eu poderia comparecer a um encontro da organização Sovereignty International, na cidade de Washington, como indicado por ela. Aquele seria um encontro de pesquisadores do direito à propriedade privada, autores conservadores e acadêmicos dedicados às liberdades. Enquanto que o Congresso Cidadania Global era sobre a busca da transformação total, o evento da SI demonstrava que outros na América do Norte estavam tentando deter a maré da revolução mundial. Sai do encontro com novas ferramentas de pesquisa e, mais importante, com o encorajamento para ser alguém que adverte sobre os perigos do coletivismo que está sendo imposto. Outras oportunidades para meu trabalho de pesquisa se abriram, incluindo o cargo de Diretor de Pesquisa na organização de Gary Kah — um cargo que ocupei de 1997 até 2001.

Resultado: com as informações vem a responsabilidade. Como eu poderia ficar calado? Recentemente, reli uma seleção de I Am a Sensation, o antigo livro-texto que tanto chamou minha atenção em 1995. Uma citação me deixou pasmado, fazendo-me lembrar aquilo que eu estava tentando compreender durante todos aqueles anos atrás:

"Pode ser que alguns dos Filhos da Transformação vejam a si mesmos como Anjos Vingadores ou como manifestações carnais do Príncipe Valente, cujo trabalho na Terra é o de exorcismar os 'demônios' da hipocrisia. Ou, talvez, os próprios Filhos da Transformação sejam os demônios. Neste estágio preliminar, quem pode saber?" [55].


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