18 de ago. de 2018

Alemanha – refugiada yazidi descobre que o senhor de escravos do Estado Islâmico que a escravizou vive na Alemanha como refugiado também

Ashwaq Haji, da minoria yazidi, regressou ao Iraque, depois de ter visto o seu agressor do Estado Islâmico 



DN, 17 de agosto de 2018 


Por Susete Enriques


Escravizada pelo EI no Iraque, a adolescente da minoria yazidi, Ashwaq Haji, conseguiu fugir, refugiou-se na Alemanha, mas voltou a enfrentar o pesadelo. Deparou-se com o seu carrasco num supermercado. Traumatizada, voltou a fugir e regressou ao Iraque

"Era Abu Humam, com a mesma barba assustadora e cara feia", recorda, ainda assustada, Ashwaq Haji o momento em que deu de caras com o seu carrasco do Estado Islâmico (EI). A jovem de minoria yazidi foi escravizada no Iraque pelo EI, conseguiu escapar em 2014 e pediu asilo na Alemanha. Julgava-se livre do perigo, mas a adolescente reviveu o pesadelo ao deparar-se com o seu agressor num supermercado alemão.


"Eu sou Abu Humam e estiveste comigo durante um tempo em Mosul. E eu sei onde moras, com quem e o que estás a fazer", disse-lhe no encontro inesperado, que aconteceu em fevereiro. A viver há três anos na Alemanha, Haji recorda o momento em que paralisou em frente ao homem que a comprou por 100 dólares e a manteve como escrava sexual. Agora o mesmo homem estava ali, a andar livremente na cidade alemã de Schwäbisch Gmünd, a 50 quilômetros de Estugarda.

"Sim, tu conheces-me e eu conheço-te"

"Congelei quando olhei para o rosto dele", afirmou a jovem à agência turca Bas News. O pânico instalou-se perante a visão personificada do terror que viveu quando esteve em cativeiro.

Num vídeo, partilhado no YouTube, Ashwak Haji, conta que já em 2016 tinha visto aquele homem, mas, na altura, pensou não ser possível. Só que a 21 de fevereiro deste ano não teve dúvidas.

O indivíduo perguntou-lhe, em alemão, se era a Ashwaq. "Não. Eu não conheço nenhuma Ashwaq e não o conheço", respondeu-lhe, tentando escapar à situação. Mas ele continuou a insistir. "Sim, tu conheces-me e eu conheço-te. E sei há quanto tempo estás na Alemanha", disse-lhe em tom de ameaça. "Tive tanto medo. Sabia que era ele. Mal conseguia falar", lembrou, sem esconder o nervosismo por ter dado de caras com o seu agressor.

Naquele momento, pensou que era o seu fim, enquanto ele continua a a assediá-la, em alemão. "Sim, eu sou Abu Humam. Tu és Ashwaq". A adolescente voltou a recusar a sua identidade e o homem manteve o teor da conversa, mas agora em árabe.

Depois do encontro, Ashwaq Haji denunciou Humam à polícia alemã. As autoridades disseram-lhe que ele estava registado como refugiado, tal como ela, e que não havia provas para o deter.

Aterrorizada, Ashwaq Haji decidiu deixar a Alemanha e regressar ao Iraque, mais uma vez por causa do Estado Islâmico, grupo terrorista que a sequestrou quando tinha apenas 15 anos. Conseguir escapar ao cativeiro e, através de um programa humanitário, migrou para a Alemanha, onde estava num campo de refugiados em Estugarda. Agora voltou a fugir.

"Quando a mãe me contou que ela tinha visto esse jihadista, disse-lhe para voltarem. Alemanha já não é um lugar seguro", afirmou, desde o campo de deslocados, no Curdistão iraquiano, o pai de Haji, à agência AFP.

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