13 de jun. de 2018

Armando a Comunidade Internacional — Parte 2: A Guerra Fria, de 1946 a 1959

Armando a Comunidade Internacional — Parte 2: A Guerra Fria, de 1946 a 1959




Autor: Carl Teichrib, Forcing Change, Volume 5, Edição 6.


Leia primeiro a Parte 1.

Pressão de um lado e reação do outro. Se você se lembra da Guerra Fria, ela foi o arrasta-pé que o mundo testemunhou entre dois atores antagônicos, porém interconectados: o Ocidente — liderado pelos EUA e pela Grã-Bretanha contra Rússia e o Bloco Oriental. Essa dança sangrenta era expressada via guerras por procuração, negociações a portas fechadas nos encontros de cúpula, nas sombras das operações de espionagem e nos salões surreais das Nações Unidas, onde os diplomatas dos campos opostos se cruzavam diariamente.

Na primeira parte desta série "Armando a Comunidade Internacional", examinamos a história de uma Grande Ideia — o sonho de uma força militar internacional como uma extensão do "governo mundial". A cronologia foi iniciada em 1900 e terminou em 1945 e forneceu um apanhado geral dos indivíduos, conceitos e acontecimentos históricos que deram origem a essa busca por um mundo unificado.


Esta segunda parte, "A Guerra Fria, de 1946 até 1959", continua a cronologia e enfoca o início da Guerra Fria e da Era Nuclear. Este foi um período crítico, pois esses poucos anos viram o nascimento das tropas de paz da ONU, as parcerias de segurança regional e as alianças militares globais. O fundamento para muito disto tudo eram o desejo de criar uma "ordem internacional" e a luta constante entre dois sistemas dominantes — colocando uma metade do mundo contra a outra.



Embora esta cronologia apresente o ímpeto para uma autoridade mundial equipada com força militar, precisa ser reconhecido que a história tem um modo de fazer essas ideias aparecerem, desaparecerem e depois voltarem à tona. Além da oposição dos indivíduos e grupos ao governo mundial, a pressão favorável e a reação contrária dos principais atores e forças históricas têm provavelmente feito mais para controlar essa maré. Todavia, o ritmo "Um Mundo Unificado" subjacente pode ser ouvido distintamente à medida que o mundo se move com a batida do tempo.

Nota: A cronologia a seguir não está completa.

Cronologia: 1946-1959

1946: Em 25 de março, The Indian Express publicou "Os Cinco Grandes Vão Discutir uma Força Policial Mundial":
"Representantes militares dos 'Cinco Grandes' — Grã-Bretanha, Estados Unidos, Rússia, França e China — se reunirão em um hotel de Nova York hoje para discutir os planos para estabelecerem uma Força Policial Mundial..."

"... De acordo com reportagens não confirmadas, vários membros do Comitê Militar de Apoio indicaram para os Estados Unidos a necessidade de criar uma força internacional de aproximadamente 2.000.000 de homens."

"Acredita-se aqui que a contribuição americana para a força não incluirá um grupo aéreo de transporte da bomba atômica."

"Entretanto, é indicado que uma vez que o Comitê de Apoio Militar iniciar suas discussões, pouca ou nenhuma notícia será tornada pública, pois foi decidido em seu encontro de Londres que o segredo absoluto será necessário nas conversações e no planejamento militar."
No mesmo dia, The Miami News, em uma coluna intitulada "Equipe de Apoio Militar da ONU Começará a Estudar um Exército Mundial", reportou que "as discussões serão sobre tudo, desde o uso da bomba atômica até o tipo de equipamento que será fornecido...".

Algumas semanas mais tarde, em 11 de abril, um artigo publicado no Gettysburg Times, "Militares Planejam Força Policial Mundial", confirmou os relatórios anteriores de encontros militares sigilosos em um hotel em Nova York:
"A especulação gira naturalmente em torno do tamanho dessa força militar gigantesca e com quanto cada uma das 51 nações-membro contribuirá... A maioria até aqui está inclinada a aceitar a teoria que os Estados Unidos contribuirão pesadamente com unidades aéreas e navais, e que talvez a maior participação das forças terrestres virá da Rússia."
1946-1949: Os cidadãos e líderes veem igualmente as Nações Unidas como uma nova esperança para a paz mundial. Ao mesmo tempo, a tensão cresce entre a União Soviética e os países ocidentais.

É difícil dizer em que ponto a Guerra Fria teve início. Ela foi prenunciada nas conferências da guerra de 1945 em Yalta e Potsdam — eventos em que "o governo em Washington tinha prometido e esperado demais para reconhecer a esfera de influência soviética". Assim também uma sombra é evidente nos discursos e comunicados, como a fala de Churchill em Fulton, em 1946, destacando o novo equilíbrio soviético de poder na Europa. Ironicamente, as posições britânicas e americanas ao fim da guerra exerceram papéis importantes em permitir o entrincheiramento soviético.

Em 1947, o presidente Truman apresentou aquilo que é conhecido como Doutrina Truman: uma posição que apoiava a Grécia e a Turquia contra a influência comunista e, ao fazer isso, colocou os EUA em oposição à União Soviética. Mas, a Guerra Fria cresceu em intensidade com Berlim e o Bloqueio de 1948, uma crise causada pelo acesso ao setor aliado em Berlim. A partir desse ponto, a rivalidade entre Oriente e Ocidente assumiu o centro do cenário nos assuntos internacionais.

Outras mudanças significativas estavam ocorrendo em todo o mundo. Os domínios coloniais franceses e britânicos mudaram; novos atores emergiram no Oriente Médio — incluindo a nação de Israel e seu ataque subsequente por seis exércitos árabes, a fase final da sangrenta guerra civil na China solidificou o poder do Partido Comunista; a Índia e o Paquistão obtiveram a independência e entraram em conflito.

Nas mentes dos líderes mundiais pairava o espectro da nuvem atômica em forma de cogumelo. Portanto, para o planeta sobreviver a esta nova e perigosa Guerra Fria, o desarmamento e a liderança global seriam necessários.

Em 1949 a URSS testou sua primeira bomba atômica.

- "Official Washington", citação; Norman A. Graebner, Cold War Diplomacy, 1945-1960 (Van Nostrand, 1962), pág. 21.

1946: 5 de março — Falando na Escola Westminster (em Fulton, Missouri), o ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill endossou uma força mundial operando por meio da Organização das Nações Unidas:
"Uma organização mundial já foi erigida com o propósito principal de prevenir a guerra, a ONU, a sucessora da Liga das Nações..."

"Tenho, entretanto, uma proposta definida e prática a fazer para ação. Tribunais e magistrados poderão ser constituídos, porém não poderão funcionar sem delegados de polícia. A Organização das Nações Unidas precisa começar imediatamente a ser equipada com uma força armada internacional... Proponho que cada uma das Potências e Estados sejam convidados a delegar certa quantidade de esquadrões aéreos para o serviço da organização mundial... Eles não precisariam agir contra seu próprio país, mas em outros respeitos, seriam dirigidos pela organização mundial." 
Churchill acreditava que a "fraternidade do homem" seria incorporada em uma organização mundial. Da mesma forma, ele falou sobre uma "associação fraternal dos povos de língua inglesa" — a criação de um relacionamento militar especial entre a Comunidade Britânica de Nações e os Estados Unidos. Isto, ele argumentou, não competiria com a organização mundial, mas permitiria que ela "alcançasse sua plena estatura e força" como um "Templo da Paz".

Nesse discurso, Churchill popularizou a frase "Cortina de Ferro" e fez um apelo por uma "nova unidade na Europa" sob a estrutura das Nações Unidas" para enfrentar o poder soviético. Esse contexto soviético também foi o cenário para a desejada parceria anglo-americana. Embora os britânicos e americanos tivessem prometido independência para as nações da Europa Oriental durante a Segunda Guerra Mundial, era evidente que a URSS estava agora firmemente entrincheirada naqueles territórios.

O discurso foi desdenhado por muitos. O presidente Truman, que esteve presente ao evento em Fulton, distanciou-se dos comentários de Churchill. Em um desfile em Nova York, o estadista britânico foi recebido tanto com saudações quanto com escárnios. O problema não era sua "fraternidade do homem" incorporada em uma organização mundial", mas seu claro chamado para uma aliança anglo-americana estabelecida em oposição à União Soviética. Para alguns, isso era um apelo para os EUA participarem na "preservação do vastíssimo Império Britânico". Outros viam isso como um "retorno à política do poder" e a divisão maior de um mundo já dividido pelas forças da guerra.

O professor de História Norman A. Graebner postulou que o discurso de Churchill revelou uma América que, seja lá o que ela pensava da União Soviética, "se retiraria de qualquer programa que requeresse mais dos EUA do que um apelo à desaprovação moral". Entretanto, no ano seguinte, o presidente Truman instituiu a Doutrina Truman: uma posição que apoiava a Grécia e a Turquia contra a influência comunista e, ao fazer isso, colocou a América em oposição direta à crescente esfera de influência soviética.

- Winston Churchill, "The Sinews of Peace", Churchill Speaks, 1897-1963: Collected Speeches in Peace and War (Barnes and Noble, 1998), pág. 878. Veja a transcrição completa do discurso sobre "associação fraternal", "cortina de ferro", "Europa", etc.

- Para uma breve descrição da reação da América, veja Norman A. Graebner, Cold War Diplomacy, 1945-1960 (Van Norstrand Company, 1962), pág. 31.

1946: O livro de William C. Bullitt, The Great Globe Itself é publicado. Bullitt, que esteve envolvido na Conferência de Paz de Paris de 1919 e foi o primeiro embaixador americano na União Soviética — uma experiência que o deixou totalmente avesso ao Comunismo — era um forte apoiador de uma ONU fortalecida e sem um veto soviético. Esse membro de longa data do Conselho das Relações Internacionais também acreditava que a política externa da América deveria ser direcionada para a criação de uma "Federação de Estados Europeus", como uma barreira contra os soviéticos.

O internacionalismo baseado em morais, ele afirmava, precisava ser avançado nesta era de poder atômico. Isso seria expresso de duas formas:

1) Os indivíduos e as nações deveriam "pedir a Deus para nos fazer instrumentos de Sua justiça e paz..." E os líderes religiosos deveriam trabalhar para este fim: "A moralidade internacional pode ser feita para crescer novamente pelos atos dos homens de boa vontade no serviço de Deus."

2) Um governo mundial armado e equipado.
"Vamos tentar imaginar como nos sentiremos quando soubemos em algum momento durante a próxima década, que o governo soviético está fabricando a bomba atômica. Desejaremos então desesperadamente que tivéssemos um Governo Federal do Mundo. As questões da soberania nacional parecerão relativamente pouco importantes em comparação com nosso desejo de evitar a destruição. Começaremos a discutir a fabricação e posse das armas atômicas e outras armas de destruição maciça; a autoridade de inspecionar cada centímetro de cada país para garantir que não existem depósitos secretos ou fabricação dessas armas; a autoridade para criar uma força policial mundial equipada com amas atômicas e, portanto, mais poderosa que as forças armadas de qualquer país; autoridade para impor uma Carta Mundial de Direitos. Desejaremos criar um Governo Federal Mundial que tenha muita da mesma autoridade sobre os governos nacionais que o governo federal dos Estados Unidos tem sobre seus 'estados soberanos'."
- William C. Bullitt, The Great Globe Itself: A Preface to World Affairs (Charles Scribner’s Sons, 1946), págs. 215-216.

1946: A Organização Cultural, Científica e Cultural das Nações Unidas (UNESCO) é fundada. Um ano mais tarde, o diretor-geral da UNESCO, Julian Huxley, publica sua visão para a UNESCO: um humanismo mundial científico enraizado na evolução e na unidade mundial. Ao detalhar isto, Huxley escreveu:
"A UNESCO precisa constantemente testar suas políticas com relação à pedra de toque do progresso evolucionário. Um conflito central dos nossos tempos é aquele entre o nacionalismo e o internacionalismo, entre o conceito de muitas soberanias nacionais e uma soberania mundial... A moral para a UNESCO é clara. A tarefa que está diante dela de promover a paz e a segurança nunca poderá ser integralmente realizada pelos meios atribuídos a ela — educação, ciência e cultura. Ela precisa ter em vista alguma forma de unidade política mundial, seja por meio de um único governo mundial, ou então como o único modo certo de evitar a guerra."

- Julian Huxley, UNESCO: Its Purpose and its Philosophy (Public Affairs Press, 1947), pág. 13.
1946: O jornal Chicago Daily Tribune publica uma série de duas partes sobre um movimento para criar um governo mundial equipado com um corpo executivo, sistema legislativo, estrutura judiciária e uma força militar.
"Quando o governo mundial for alcançado, todos os armamentos nacionais, exceto quantidades limitadas a serem usadas no policiamento interno, deverão ser abolidos e a fabricação de armamentos, exceto aqueles necessários para um exército mundial e para o policiamento interno, deverão ser banidos."
De acordo com a série, diversos grupos de lóbi pró-governo mundial nos EUA estavam se coalescendo para formar uma nova organização, Americans United For World Government (Americanos Unidos a Favor do Governo Mundial). Ao criticar esse grupo, Robert P. Hillman escreveu:
"Uma das funções básicas dessa organização era servir como um grupo de ação política que tentaria ativamente derrotar os candidatos que fossem antagônicos ao governo mundial. Nesse esforço, eles foram em parte bem-sucedidos. Entre suas vítimas estavam os senadores Wheeler, de Montana, Shipstead, de Minnesota, e Nye, de Dakota do Norte. O medo era a arma de escolha para esse grupo... a campanha política para um 'governo mundial' usa a frase pavorosa 'guerra atômica' como sua arma de propaganda."
Hillmann observa que os apoiadores da organização Americanos Unidos a Favor do Governo Mundial incluíam Marshall Field III, James P. Warburg e Owen D. Young.

- Veja, Robert P. Hillmann, Reinventing Government: Fast Bullets and Culture Changes (Murchison Chair of Free Enterprise, University of Texas at Austin, 2001), pág. 54-55.

1946-1952: A Comissão de Energia Atômica das Nações Unidas (UNAEC, de United Nations Atomic Energy Commission) é criada. Seu propósito é buscar soluções internacionais à questão do uso da energia atômica. Neste contexto, os Estados Unidos apresentaram o Plano Baruch, que propunha uma autoridade internacional para supervisionar todos os desenvolvimentos nucleares — sob uma agência baseada no Ocidente. Os soviéticos propuseram um plano alternativo que proibia o uso de artefatos nucleares para a destruição maciça. Entretanto, quando eles realizaram seu primeiro teste atômico em 1949, o papel da UNAEC efetivamente se evaporou. A UNAEC foi desmantelada em 1952.

1946-1960: Este período de tempo foi reconhecido como a Primeira Era Nuclear e os planos de "desarmamento" atômico eram frequentemente parte do cenário diplomático. Alan Geyer descreveu o jogo em seu livro The Idea of Disarmament (A Ideia do Desarmamento):
"E assim começou a estratégia de usar o desarmamento em que os EUA e a URSS procuravam superar um ao outro em manobras com grandes esquemas para o desarmamento que pudessem vencer as batalhas de propaganda porque cada um forçaria o outro a entrar em uma posição desvantajosa."

- Alan Geyer, The Idea of Disarmament! Rethinking the Unthinkable (The Brethren Press, 1982), pág. 19.

1947: Falando no Albert Hall, em Londres, em 14 de maio, Winston Churchill apelou para a ordem internacional:
"A criação de uma ordem internacional que tenha autoridade e todo o poder é o objetivo final para o qual precisamos nos esforçar para alcançar. A não ser que algum efetivo Supergoverno Mundial possa ser criado e colocado rapidamente em ação, as possibilidades de paz e progresso humano são tenebrosas e duvidosas."

- Winston Churchill, "United Europe", Churchill Speaks, 1897-1963: Collected Speeches in Peace and War (Barnes and Noble, 1998), pág. 913.

1947: Os federalistas mundiais da Europa e da América do Norte se reuniram em Montreux, Suíça, para discutir os objetivos de seu movimento, unificar as atividades e fortalecer a causa do governo global. Esse "primeiro congresso internacional do Movimento Mundial Pró-Governo Federal Mundial" produziu a Declaração de Montreux. O Ponto 4 diz:
"A criação de forças armadas supranacionais capazes de garantir a segurança do governo federal mundial e de seus estados-membro. O desarmamento das nações-membro para o nível das necessidades internas de policiamento."
O Federalismo Mundial se propaga dentro dos Estados Unidos. De acordo com a publicação Activist Guidebook, da Associação Federalista Mundial, por volta de novembro de 1947 "grandes jornais 'tinham dado suporte em seus editoriais ao movimento e havia 150 capítulos estudantis. Por volta de 1950, existiam mais de 40.000 membros."

- Activist Guidebook (World Federalist Association, 1997), Section 1, pág. 15.

1947: Albert C. Knudson, um teólogo metodista, advoga uma moral e uma maturidade espiritual na ordem mundial e propõe um Federalismo Mundial construído sobre as linhas da irmandade. Endossando a paz mundial, ele também reconheceu o papel da força "no estabelecimento de uma ordem mundial pacífica."
"A paz doméstica e a cooperação implicadas nela são tornadas possíveis somente pelo uso ou ameaça de uso da força pelo estado nacional. O mesmo também será verdadeiro com relação à paz internacional quando ela for finalmente estabelecida. Ela será mantida pelo uso ou ameaça de uso de força por um governo internacional de algum tipo."

- Albert C. Knudson, The Philosophy of War and Peace (Abingdon-Cokesbury Press, 1947), pág. 198.

1947: Em junho, o Conselho de Segurança da ONU solicitou estimativas dos governos nacionais com relação à possível constituição de uma força policial mundial. A edição de 19 de junho do jornal The Sydney Morning Herald reportou que as "As Melhores Tropas Ingressarão na Polícia Mundial". O The Pittsburgh Press publicou o seguinte em 11 de setembro:
"A Grã-Bretanha tinha sugerido de 8 a 12 divisões terrestres e seis cruzadores; Stalin aceitou 12 divisões e cinco ou seis cruzadores. A Grã-Bretanha propôs 1.200 aviões, 24 destroires e 12 submarinos. Stalin duplicou essas quantidades. Os EUA e a França propuseram navios de desembarque para as tropas terrestres — os EUA sugeriram 20 divisões e a França 16, mas Stalin não quer nenhuma. Os EUA e outras nações na Assembléia devem continuar a pressionar a Rússia aqui. Até mesmo uma força desbalanceada é melhor do que nenhuma; ela pode ser expandida mais tarde."

1948: Em seu terceiro relatório anual para a Assembleia-Geral das Nações Unidas, o secretário-geral Trygve Lie exortou os membros a capacitarem a organização com seu próprio sistema militar:

"Tenho em estudo propostas para a criação de uma pequena Força de Guardas das Nações Unidas que poderia ser recrutada pelo secretário-geral e colocada à disposição do Conselho de Segurança e da Assembleia-Geral. Essa força não seria usada como uma substituta para as forças contempladas nos Artigos 42 e 43 [da Carta da ONU]. Ela não seria uma força de ataque, mas puramente uma força de guardas. Ela poderia ser usada para serviços de guarda com as missões das Nações Unidas, na realização de plebiscitos sob a supervisão da ONU e a administração dos termos dos acordos de paz. Ela poderia ser usada como uma força policial pelo Conselho de Segurança ou o Conselho de Curadoria em cidades como Jerusalém ou Trieste (no nordeste da Itália) durante o estabelecimento de regimes internacionais."

- Trygve Lie, The Struggle for Lasting Peace (United Nations: Introduction to the Third Annual Report to the General Assembly of the United Nations, 5 de julho de 1948).

1948: A Organização dos Estados Americanos, é formada pelas nações desde o Chile até o Canadá como um organismo regional da ONU. Historicamente, a OEA é uma extensão de um sonho antigo de unir o Hemisfério Ocidental como uma unidade de cooperação. Apresentada em 1826 no Congresso do Panamá, essa ideia de unificação foi reconsiderada na Conferência dos Estados Americanos de 1890 — onde os delegados concordaram em estabelecer a União Internacional das Repúblicas Americanas (IUAR). Mais tarde, a IUAR mudou seu nome para União das Repúblicas Americanas e abrigou, sob seu guarda-chuva, a União Pan-Americana. Após a Segunda Guerra Mundial a Carta da Organização dos Estados Americanos foi assinada por 21 países e o edifício da União Pan-Americana — localizado em Washington DC — abrigou o corpo regional da ONU recém-criado. Hoje, a União Pan-Americana é o órgão central da OEA.

O Capítulo 5 da Carta da OEA, que foi assinada em 1948, garante a autodefesa coletiva. Outros artigos estabelecem um conselho judicial para promover e desenvolver a lei internacional dentro da OEA.

1948: Frederick L. Schuman, então um professor de Administração Pública no Williams College e um acadêmico influente em assuntos internacionais, lançou a quarta edição de seu livro monumental, International Politics (Política Internacional). Publicado originalmente nos anos 1930s, essa nova edição expandiu a discussão sobre os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, as agitações políticas na Índia e na China, e a criação das Nações Unidas. Com relação ao organismo global recém-organizado e sediado em Nova York, o professor Shuman foi franco: "A Organização das Nações Unidas é a Liga das Nações em um novo disfarce."

Schuman era um crítico da "segurança coletiva" em que as nações atuavam conjuntamente como polícia internacional e sem um padrão de governo superior. Ele via isso como politicamente não funcional. Entretanto, ele via uma alternativa: "... pode haver paz estável e duradoura somente por meio do governo mundial." Esse governo mundial estaria encarregado de "impor a lei internacional sobre os indivíduos e manter a paz entre os Estados." Ele também receberia autoridade para tributar e impor suas normas por meio de ação judicial. Todavia, Schuman escreveu: "... essa medida é aparentemente bloqueada pela devoção obstinada dos homens e mulheres em toda a parte aos seus deuses tribais e por sua ignorância, desconfiança e temor..."

- Frederick L. Schuman, International Politics: The Destiny of the Western State System (McGraw-Hill, 1948), pág. 327, 339.

1948-Hoje: Em 1948, um Congresso Mundial de Intelectuais Pela Paz, dominado pelos soviéticos, foi realizado em Wroclaw, Polônia. Esse encontro gerou o "Comitê Internacional de Ligação dos Intelectuais" que, por sua vez, patrocinou um "Congresso Mundial da Paz" em 1949; nesse ano, o nome foi modificado para Conselho Mundial da Paz (WPC, de World Peace Congress). Ao longo das décadas, o Conselho Mundial da Paz tem apoiado o internacionalismo, patrocinado conferências e organizado movimentos de paz para se oporem à "busca da guerra" e ao imperialismo ocidentais. "Paz mundial" era e é o objetivo declarado; entretanto, por trás, há uma cosmovisão soviética. Durante a Guerra da Coreia, o trabalho do Conselho Mundial da Paz parecia sugerir uma alternativa às Nações Unidas e no início dos anos 1950s, o WPC afirmou que tinha recolhido centenas de milhões de assinaturas em suas campanhas "Apelo à Paz". Hoje, o WPC coopera com a UNESCO e com outras agências da ONU e grupos do WPC estão operando em todo o mundo — incluindo nos EUA, Canadá e Europa. Desarmamento completo e geral, fechamento das bases militares e segurança global são todos parte da plataforma de "Paz Mundial" do WPC.


1949: Na Califórnia, Alan Cranston liderou um esforço de lóbi dos Federalistas Mundiais direcionados aos Democratas e Republicanos. O resultado foi uma resolução da Casa dos Representantes da Califórnia para uma Convenção Constitucional dos EUA com o propósito específico de emendar a Constituição "para agilizar e garantir a participação dos Estados Unidos em um governo federal mundial."

Neste mesmo ano, a Resolução 64 do Congresso dos EUA foi apresentada e proposta simultaneamente no Senado como SCR 56. Ela foi patrocinada por 22 senadores e 111 representantes (deputados). Ela diz em parte:
"... deve ser um objetivo fundamental da política externa dos Estados Unidos apoiar e fortalecer as Nações Unidas e buscar seu desenvolvimento em uma federação mundial... para preservar a paz e evitar a agressão por meio da aprovação, interpretação e imposição da lei mundial."
- Para mais informações sobre essas duas Resoluções, veja The Power Puzzle: A Compilation of Documents and Resources on Global Governance (Editados por Carl Teichrib, podem ser baixados na seção restrita aos assinantes em ForcingChange.org).

1949: O Altus Times-Democrat reportou:
"O anúncio que a Rússia tem o segredo da bomba atômica inspirou um impressionante apoio popular nos EUA para a ideia de um governo mundial."

"... nas pequenas cidades de todo o país organizações estão sendo formadas subitamente para apoiar os grupos nacionais que estão pressionando por algum tipo de Estados Unidos do Mundo. As quatro principais organizações são: Comitê de União do Atlântico, Federalistas Mundiais Unidos, Associação das Nações Unidas e Comissão dos Cidadãos a Favor de uma Reforma nas Nações Unidas."
O ex-juiz da Suprema Corte Owen J. Roberts era o presidente da União do Atlântico. Ele argumentava pelo governo mundial com base em uma união das democracias do Atlântico com uma posição militar superior: "... estaremos com 90% do poder naval mundial e a questão das bases militares seria enormemente simplificada."

- Douglas Larsen, "World Government Moves Gains Backing", The Altus Times-Democrat, 24 de outubro de 1949.

1949: Os Quacres — Comitê de Serviço dos Amigos Americanos — produziu um relatório intitulado "Os Estados Unidos e a União Soviética". Governo mundial, com tudo o que ele implica, foi a recomendação final:
"Um mundo de Estados soberanos não pode ter a esperança de obter a paz, segurança e bem-estar enquanto seus membros dependem de seus próprios esforços e de seus próprios poderios militares para garantir a segurança. Uma organização internacional substancial é necessária para traduzir o problema da segurança dos termos de preparação para a guerra para os termos de ação de polícia dentro da lei... Meras declarações de lealdade às Nações Unidas não são suficientes."

"Acreditamos que os Estados Unidos devam tomar a iniciativa nas Nações Unidas em um esforço novo e de longo alcance para produzir... a eliminação universal dos armamentos nacionais até os níveis necessários unicamente para as considerações de tranquilidade interna... Acreditamos que exista na comunidade internacional sabedoria e boa fé suficientes para tornar possível o controle internacional da energia atômica e a eliminação progressiva dos armamentos nacionais."

"Para que o mundo fique livre das ameaças recorrentes de conflitos armados, o caminho precisa ser encontrado, lenta e pacientemente, para alguma forma de organização mundial inclusiva cuja autoridade transcenda a dos Estados-membros. Esse governo mundial precisa crescer. Ele deve ser a pedra angular da política dos Estados Unidos e deve ser um esforço constante de todos os cidadãos deste país auxiliar e incentivar esse crescimento."

- American Friends Service Committee, The United States and the Soviet Union: Some Quaker Proposals for Peace (Yale University Press, 1949), págs. 30, 34-35, 37.

1949: O Tratado do Atlântico Norte foi assinado e a Organização do Tratado do Atlântico Norte passou a existir. Conhecida também como Aliança do Atlântico, a OTAN (ou NATO, de North Atlantic Treaty Organization) foi formada como um organismo de segurança coletiva vinculando originalmente a Bélgica, França, Luxemburgo, Holanda, Islândia, Itália, Dinamarca, Noruega, Portugal, Canadá e os Estados Unidos.

A OTAN foi criada dentro da estrutura da Carta das Nações Unidas, Artigo 51: o direito das nações formarem associações para defesa coletiva. O Tratado do Atlântico Norte afirma essa conexão com a ONU no Preâmbulo: "As partes neste Tratado afirmam sua fé nos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas." O Artigo 1 diz:
"As partes se comprometem, conforme definido na Carta das Nações Unidas, a resolverem qualquer disputa internacional em que possam se envolver por meios pacíficos, de tal forma que a paz, a segurança e a justiça internacionais não sejam ameaçadas, e a se absterem, em suas relações internacionais, da ameaça ou uso da força de qualquer maneira que seja inconsistente com os propósitos das Nações Unidas."

Uma matéria publicada no jornal The Pittsburgh Press fez uma observação interessante:
"... após o Pacto do Atlântico Norte ser aprovado na terça-feira, várias resoluções pró-governo mundial foram apresentadas no Congresso. Mas, você observou a força que estava por trás delas — em números e em prestígio? Este não é um movimento de malucos; ele é apoiado por algumas das mentes mais brilhantes, que veem nele a única cura permanente para o temor constante de guerra e da bomba atômica."

"... Este governo mundial terá poder suficiente para forçar todas as nações a se desarmarem e a permanecerem desarmadas. Ele terá uma força policial mundial, armada com as mais modernas armas para manter a paz. Ele terá poder para entrar em qualquer país e capturar um indivíduo (como Hitler) que esteja provocando agitações que possam levar a uma guerra."
- Sobre o Pacto do Atlântico Norte, veja Gilbert Love, "World Government", The Pittsburgh Press, 30 de julho de 1949.

1949: O ganhador do Prêmio Nobel Lord Boyd Orr, ex-chefe da FAO (Organização para a Agricultura e Alimentação da ONU), prometeu entregar seu prêmio de 22.000 dólares para promover o governo mundial.

1950: A Resolução Unidos Pela Paz (Res. 377) foi adotada pelas Nações Unidas. Essa Resolução tinha o objetivo de transferir a autoridade para ação coletiva para a Assembleia-Geral da ONU se o Conselho de Segurança caísse em uma situação de impasse. A Resolução 377...
"Resolve que se o Conselho de Segurança, devido à falta de unanimidade dos membros permanentes, deixar de exercer sua responsabilidade precípua para a manutenção da paz e segurança internacionais em qualquer caso onde pareça haver uma ameaça à paz, violação da paz ou um ato de agressão, a Assembleia-Geral considerará a questão imediatamente com vistas a fazer recomendações apropriadas para os Membros para a tomada de ações coletivas, incluindo no caso de uma violação da paz ou ato de agressão, o uso de forças armadas, quando necessário, para manter ou restaurar a paz e segurança internacionais."
A Resolução convidava os países-membros a determinarem os níveis de assistência militar, a manterem elementos treinados que pudessem ser mobilizados em uma unidade de força das Nações Unidas e estabeleceu um Comitê de Medidas Coletivas para desenvolver os métodos técnicos "que pudessem ser usados para manter e fortalecer a paz e a segurança internacionais de acordo com... a Carta." Isso incluía acordos de autodefesa coletiva e regionais.

A Resolução 377 foi apresentada pelos Estados Unidos em uma tentativa de bloquear as atividades soviéticas e da ONU no que se referia à Guerra da Coreia. A Resolução também exerceu um papel diplomático e jurídico em outros conflitos, como na questão do Canal de Suez, e concedeu à Assembleia-Geral a capacidade de convocar uma "Sessão Emergencial Especial".

Entretanto, historicamente, os defensores da Resolução 377 ficaram desapontados, pois ela fracassou em mover a ONU rumo a uma capacidade de resposta que fosse eficaz e capacitante de forma permanente — isto é, uma verdadeira Força Mundial.

Nota: Naquilo que está sendo chamado de "Batalha de Setembro" (a questão da criação do Estado Palestino, que será tratada pela ONU neste ano), está sendo anunciado publicamente que se o Conselho de Segurança da ONU não chegar a um acordo sobre a criação do Estado, então a autoridade de tratar a questão será transferida para a Assembleia-Geral, segundo os termos da Resolução 377.)

1950-1953: Um conflito militar é deflagrado entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, devastando a Península Coreana e alterando o cenário geoestratégico. Por volta de 27 de julho de 1953, quando o armistício foi assinado, o número de baixas entre os civis tinha atingido aproximadamente 2,5 milhões.

O pano de fundo para essa guerra foi uma complexa e mortal matriz: a Guerra Sino-Japonesa, a Guerra Civil Chinesa, o teatro asiático e do Pacífico na Segunda Guerra Mundial — incluindo a campanha da Rússia na Manchúria. Na Conferência de Moscou de 1945, o destino do povo coreano foi selado pelos ministros das Relações Exteriores da União Soviética, Estados Unidos e Grã-Bretanha (sem consulta aos coreanos). Portanto, a península foi dividida, com tropas dos EUA no sul e forças soviéticas no norte. Em 1947, os EUA conseguiram mover a questão coreana para a recém-formada Nações Unidas e a Assembleia-Geral aprovou a criação da Comissão Temporária das Nações Unidas para a Coreia.


A República Popular e Democrática da Coreia (Coreia do Norte) e a República da Coreia (Coreia do Sul) foram formalmente declaradas em 1948. Naquele ano os soviéticos se retiraram e os americanos fizeram o mesmo em 1949. A guerra irrompeu entre o norte e o sul em 25 de junho de 1950.

Apoiando a Coreia do Norte estavam a China e a Rússia; a Coreia do Sul foi apoiada pelos EUA por meio de uma aliança de 15 membros das Nações Unidas — incluindo elementos militares da Grã-Bretanha, Canadá, Austrália, Turquia, França, Grécia e Bélgica. Entretanto, unidades militares americanas constituíam a maior parte das forças da ONU.
"Numericamente, os EUA contribuíram com 50,32% das forças terrestres, 85,89% das forças navais e 93,38% das forças aéreas. A República da Coreia contribuiu com 40,10%, 7,45% e 5,65% respectivamente e outros quinze membros da ONU contribuíram com o restante. Esses números não cobrem contribuições importantes de assistência de apoio, como suprimentos médicos, unidades hospitalares e sistemas de transporte oferecidos por outros membros, incluindo a Dinamarca, Índia, Noruega e Suécia, que não enviaram forças armadas."
Em um livro publicado por meio do Fundo Carnegie para a Paz Internacional, Leland Goodrich escreveu:
"As lições desta experiência devem ser de valor caso seja possível iniciar ação similar no futuro, seja por meio do Conselho de Segurança, ou por meio da Assembleia-Geral operando sob os termos da Resolução 'Unindo Pela Paz'. Entretanto, é claro que qualquer uso da força segundo o modelo coreano requer a liderança forte e vigorosa de uma ou mais das grandes potências; é também preciso reconhecer que uma vez que a ação desse tipo seja iniciada em uma situação em que os interesses das grandes potências estejam em conflito, grande restrição é necessária para evitar que a 'ação de polícia" se transforme em uma grande guerra."

- Leland Goodrich, "Efforts to Establish International Police Force Down to 1950", um apêndice para A United Nations Peace Force, de William R. Frye (Carnegie Endowment for International Peace, 1957). A citação dos "números" é encontrada nas páginas 188-189, a citação das "lições" na página 194.
1950: O poderoso banqueiro e conselheiro das elites políticas de Washington, James P. Warburg (um membro do Conselho das Relações Internacionais e posteriormente fundador do Instituto para o Estudo de Políticas), publicou seu livro Faith, Purpose and Power (Fé, Propósito e Poder), advogando o governo mundial com "a imposição da lei mundial".

Na capital Washington, são realizadas sessões no Congresso e no Senado sobre "governo mundial" como objetivo básico da política externa dos EUA. Também estiveram incluídos debates sobre a criação de uma União do Atlântico.

- James P. Warburg, Faith, Purpose and Power: A Plea for a Positive Policy (Farrar, Straus and Company, 1950).

1950: Sete países assinam o Tratado para Defesa Conjunta e Cooperação Econômica Entre os Estados da Liga Árabe. Esse tratado forma uma aliança militar e de segurança coletiva árabe, incluindo uma "Comissão Militar Permanente composta por representantes dos Estados-Maiores dos Exércitos dos Estados Contratantes". Os países que assinaram foram: Síria, Iraque, Líbano, Jordânia, Iêmen, Egito e Arábia Saudita. O Preâmbulo diz em parte: "cooperar para a realização da defesa mútua e a manutenção da segurança e da paz, de acordo com os princípios tanto do Pacto da Liga Árabe quanto da Carta das Nações Unidas...".

1950: Grenville Clark publicou seu livro A Plan For Peace (Um Plano para a Paz), propondo um "governo mundial limitado" por meio de uma revisão da Carta da ONU, incluindo um plano para o desarmamento nacional geral e a subsequente criação de uma Força de Paz das Nações Unidas. "Deve ser claramente compreendido que a Organização das Nações Unidas, assim remodelada, será na verdade um genuíno governo mundial."

- Grenville Clark, A Plan for Peace (Harper and Brothers, 1950), pág. 44.

1950: Albert Einstein sugere que os Estados Unidos e a União Soviética coloquem todas as armas nucleares nas mãos de uma autoridade internacional, que todas as nações se desarmem e que um governo mundial seja estabelecido.

- "Atom Bomb Disarming Einstein Aim: Urges Russia, U.S. Surrender All To World Government", The Windsor Daily Star, 19 de junho de 1950.

1951: O Tratado de Segurança Entre a Austrália, Nova Zelândia e os Estados Unidos foi assinado. Melhor conhecido como ANZUS, essa aliança militar vincula as três nações em uma parceria de segurança para a região do Pacífico. Como a SEATO (ver adiante), essa aliança foi originalmente vista como uma reação ao efeito dominó do comunismo no Sudeste Asiático. O Tratado ANZUS continua em vigor e foi reafirmado na Declaração de Wellington, de 2010. O Preâmbulo do documento de fundação do ANZUS confirma "a fé nos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas". O Artigo 1 declara:
"As Partes se comprometem, conforme definido na Carta das Nações Unidas, a resolverem qualquer disputa internacional em que possam vir a se envolver por meios pacíficos, de tal modo que a paz, a segurança e a justiça internacionais não sejam colocadas em risco, e se absterem, em suas relações internacionais, da ameaça ou uso da força em qualquer maneira que seja inconsistente com os propósitos das Nações Unidas."
1951: O papa Pio XII discursou em um encontro no Vaticano do Movimento Mundial a Favor do Governo Federal Mundial:
"O movimento de vocês, cavalheiros, tem a tarefa de criar uma organização política eficaz para o mundo. Não há nada que esteja mais alinhado com as doutrinas tradicionais da Igreja... Uma organização desta natureza precisa, portanto, ser criada, mesmo que seja somente para acabar com o rearmamento competitivo das nações..."
Em seu discurso, o papa reconheceu a possibilidade de esse sistema "se infectar com os germes mortais do totalitarismo mecânico." Portanto, ele os incentivou a criarem um governo mundial federal em torno de uma "filosofia social sadia". Terminando seu discurso, Pio XII elogiou o Movimento Mundial Pró-Governo Mundial Federal e sua dedicação à ideia de uma autoridade política mundial:

"Aqui, cavalheiros, há um campo vasto de trabalho, estudo e ação. Vocês já compreendem isto e o encaram de frente; vocês têm a coragem de se dedicarem a esta causa. Congratulamos vocês. Gostaríamos de expressar nossos votos para o total sucesso..."

- Para ler o texto completo do discurso, veja The Power Puzzle: A Compilation of Documents and Resources on Global Governance (Editado por Carl Teichrib, disponível na seção para assinantes do site ForcingChange), págs. 21-22.

1952: O Comitê de Estudo do Problema Jurídico das Nações Unidas elaborou um breve relatório sobre uma polêmica questão jurídica: "As Leis de Guerra devem se aplicar na ação de imposição das Nações Unidas?" Após pesar os prós e os contras de um aparato policial da ONU, o comitê declarou o seguinte:
"Nas atuais circunstâncias, a resposta apropriada pode parecer ser que neste tempo presente, as Nações Unidas não devam se sentir amarradas por todas as leis de guerra, mas que devem selecionar aquelas leis que possam parecer adequadas para seus propósitos (por exemplo, prisioneiros de guerra, ocupação beligerante), acrescentando outras conforme for necessário e rejeitando aquelas que parecem incompatíveis com seus propósitos. Acreditamos que não há dúvidas que as Nações Unidas, representando praticamente todas as nações do mundo, têm o direito de tomar essas decisões."

- Comitê de Estudo dos Problemas Jurídicos das Nações Unidas, "Devem as Leis de Guerra se Aplicarem à Ação de Imposição das Nações Unidas?" Reimpresso em The Strategy of World Order, Volume 3 — The United Nations (World Law Fund, 1966), pág. 75.
1952: A Comissão de Desarmamento das Nações Unidas (UNDC) foi formada. Diversos planos foram propostos para o trabalho da UNDC, incluindo uma sugestão francesa que a nova organização se envolvesse com a "revelação e verificação de todos os armamentos, incluindo os armamentos atômicos, e de todas as forças armadas..."

- The United Nations and Disarmament, 1945-1970 (United Nations, 1970), pág. 45.

1953: Uma compilação das pesquisas de opinião realizadas nos EUA de 1939 a 1953 indicaram que os cidadãos americanos apoiavam de forma esmagadora a ideia de um órgão mundial estabelecendo "uma força internacional para manter a paz mundial".

Em 1939: Sim: 46%; Não: 39%; Sem opinião: 15%.
Em 1947: Sim: 75%; Não: 17%; Sem opinião: 8%.
Em 1953: Sim: 56%; Não: 30%; Sem opinião: 14%.

- William R. Frye, A United Nations Peace Force (Carnegie Endowment for International Peace, 1957), pág. 67.

1953: O presidente americano Eisenhower faz seu discurso "Átomos para a Paz". Ele propõe que a ONU atue como a agência principal para o controle dos materiais nucleares e busque fins pacíficos com esses materiais. O discurso de Eisenhower prepara o palco para uma filosofia "Átomos para a Paz", abrindo a porta para o desenvolvimento pacífico da energia nuclear em outras nações. Todavia, o discurso provou ser ingênuo; a primeira bomba nuclear da Índia foi um resultado direto, produzido com tecnologia de um reator canadense e água pesada dos EUA sob o disfarce de uso pacífico da energia atômica.

1953/54: Uma aliança militar e de amizade entre a Turquia, Grécia e Iugoslávia foi rascunhada em 1953 e aprovada em 1954. Embora essa aliança tenha se desintegrado rapidamente, ela foi um elemento interessante da história da segurança coletiva. Aqui, duas nações que eram membros da OTAN — a Grécia e a Turquia (ambas ingressaram em 1953), formalmente se alinharam com a comunista Iugoslávia. O Pacto dos Bálcãs foi visto como um modo de indiretamente vincular a Iugoslávia com a OTAN.

Como outros sistemas coletivos de segurança, essa aliança colocou-se dentro do arcabouço das Nações Unidas. O Preâmbulo reafirmava a fé na Carta da ONU e o Artigo 1 do Pacto dos Bálcãs declarava:
"As Partes Contratantes se comprometem, de acordo com a Carta das Nações Unidas, a resolverem por meios pacíficos qualquer disputa internacional em que possam vir a se envolver, e a se absterem, em suas relações internacionais, da ameaça ou uso da força de qualquer modo que seja inconsistente com os propósitos das Nações Unidas."
Outro drama associado com o Pacto dos Bálcãs foi o fato que a Turquia, a Grécia e a Grã-Bretanha como membros da OTAN estavam intimamente envolvidas na questão de Chipre, que definiu uma zona-tampão das Nações Unidas em 1964, sob uma força de paz da ONU (posteriormente, um golpe grego-cipriota e uma invasão turca ocorreram). Falando sobre o problema de Chipre a partir da perspectiva dos anos 1950s, Richard Stebbins escreveu:
"A partir do ponto de vista dos interesses ocidentais, a disputa em Chipre foi especialmente aflitiva, pois todos os protagonistas eram por direito membros da comunidade democrática e ocidental do Atlântico Norte. A maioria, se não a totalidade dos 400.000 gregos-cipriotas queria a independência de um membro da OTAN, a Grã-Bretanha, para o único propósito de juntar seu destino com o de outro membro da OTAN, a Grécia, cujo governo apoiava ardentemente essa aspiração. A Turquia, o outro membro do triângulo, era igualmente membro da OTAN e, além disso, estava vinculada com a Grécia por meio do Pacto dos Bálcãs de 1954; todavia, os turcos eram ainda mais intransigentes que os britânicos, insistindo que o status quo em Chipre precisava ser mantido e que a ilha, sob nenhuma circunstância, deveria se unir com a Grécia.

- Richard P. Stebbins, The United States in World Affairs, 1956 (Harper/Council on Foreign Relations, 1957), pág. 101.
1954: O Tratado de Defesa Coletiva do Sudeste Asiático é assinado, criando a Organização do Tratado do Sudeste Asiático (SEATO, de Southeast Asia Collective Defense Treaty), uma aliança de defesa coletiva que vincula a Nova Zelândia, Paquistão, Filipinas, França, Austrália, Grã-Bretanha, Tailândia e os Estados Unidos. Estabelecida como um bloco anticomunista para o Sudeste Asiático, a SEATO eventualmente veio a ser dissolvida em 1977 devido às lutas internas e ao fracasso dos membros em participarem de forma plena. O Preâmbulo reafirma a fé nas Nações Unidas e o Artigo 1 declara que os membros "se absterão em suas relações internas da ameaça ou uso da força de qualquer modo que seja inconsistente com os propósitos das Nações Unidas."

1955: Harold Macmillan, ministro britânico da Defesa, endossou uma plataforma abrangente de desarmamento nacional e o subsequente fortalecimento de uma autoridade internacional:

"Os membros podem dizer que isto é elevar as Nações Unidas, ou qualquer que possa ser a autoridade, para algo como governo mundial. No longo prazo, esta é a única escapatória para a humanidade."

- Veja A World Security Authority? (The Conservative Political Centre, 1958), pág. 5.

1955: A cidade de San Francisco, na Califórnia, sediou o Décimo Aniversário da Assinatura da Carta da ONU. Dignitários do mundo inteiro se reuniram para esse evento histórico, incluindo o presidente americano Eisenhower, que explicou que a ONU tinha sido "modelada para ser o instrumento supremo da paz mundial" e prometeu que seu país seria "leal e dedicado" ao órgão mundial. Paul-Henri Spaak, ministro das Relações Exteriores da Bélgica e uma figura-chave na promoção da integração europeia, fez o apelo para a paz mundial "baseada em um desarmamento geral e controlado" — "Somente dentro das Nações Unidas deve a segurança geral ser garantida; dentro das Nações Unidas somente pode ela ser garantida." Os delegados soviéticos falaram altaneiramente sobre o desarmamento geral e total. Diplomatas de outras nações também relataram como a ONU precisava ser vista como o veículo principal para a paz internacional.

- Veja Tenth Anniversary of the Signing of the United Nations Charter: Proceedings of the Commemorative Meetings (United Nations, 1955).

1955: Nasce o Pacto de Varsóvia (dissolvido em 1991). Oficialmente intitulado Organização do Tratado de Varsóvia para Amizade, Cooperação e Assistência Mútua, esse acordo foi o órgão de segurança coletiva de base soviética que esteve em paralelo com a OTAN. Originalmente, ele incluía a Albânia, Polônia, Hungria, Alemanha Oriental, Bulgária, Tchecoslováquia, Romênia e a União Soviética. O Preâmbulo do Pacto explica o objetivo de ser "um sistema de segurança europeia coletiva baseado na participação de todos os Estados europeus, independente de seus sistemas sociais e políticos, que tornaria possível unir seus esforços em salvaguardar a paz da Europa..."

Da mesma forma que a OTAN, o Pacto de Segurança de Varsóvia vincula-se com as Nações Unidas. Isto pode ser visto no Preâmbulo: "... guiados pelos objetivos e princípios da Carta das Nações Unidas." O Artigo 1 do Pacto de Varsóvia diz:
"As Partes Contratantes se comprometem, em consonância com a Carta das Nações Unidas, a se absterem em suas relações internacionais da ameaça ou uso da força, e solucionarem suas disputas internacionais de forma pacífica e de um modo que não ponha em risco a paz e a segurança internacionais."


O Artigo 4 explica:
"No caso de ataque armado na Europa contra uma ou mais das Partes no Tratado por qualquer Estado ou grupo de Estados, cada uma das Partes no Tratado, no exercício de seu direito à autodefesa individual ou coletiva de acordo com o Artigo 51 da Carta da Organização das Nações Unidas, imediatamente, de forma individual ou em acordo com outras Partes no Tratado, virá em ajuda ao Estado ou Estados atacados com todos os meios considerados necessários, incluindo a força armada. As Partes no Tratado imediatamente se consultarão com relação às medidas necessárias a serem tomadas por elas conjuntamente de modo a restaurar e manter a paz e segurança internacionais."
1955: O Pacto de Bagdá foi formado como um acordo de segurança coletiva entre Irã, Iraque, Turquia, Paquistão e Grã-Bretanha. Ele também foi conhecido como Organização do Tratado do Oriente Médio e Organização do Tratado Central (CENTO, de Central Treaty Organization). Os Estados Unidos estiveram envolvidos na criação do CENTO, porém não ingressaram na organização. O CENTO foi problemático em muitos aspectos; internamente ele fracassou como uma aliança e, externamente, alimentou sentimentos antiocidentais na Índia e no Egito. A organização foi encerrada em 1979.

O Pacto de Bagdá vincula-se com o Artigo 51 da Carta das Nações Unidas e dá reconhecimento ao Tratado da Liga Árabe de Defesa Conjunta e Cooperação Econômica.

1956: A Agência Internacional de Energia Atômica foi criada como um órgão das Nações Unidas; as questões sobre as armas nucleares e o desenvolvimento pacífico da energia atômica ficaram debaixo de seu guarda-chuva. Ela foi originalmente planejada para ser um tipo de "banco nuclear" internacional.

1956: A Crise do Canal de Suez colocou Israel contra o Egito. A Grã-Bretanha e a França foram participantes diretas, com o envolvimento da Inglaterra no Egito/Sudão e o Canal de Suez durando várias décadas. Os Estados Unidos e a União Soviética exerceram papéis importantes no conflito, porém somente por trás dos bastidores.

Todas as nações mobilizaram forças e se envolveram em ação, enviaram suprimentos de guerra, impuseram embargos e expulsaram os cidadãos de outras nacionalidades, de modo que as Nações Unidas enfrentaram uma situação que se agravava cada vez mais. Em 2 de novembro, o ministro das Relações Exteriores do Canadá, Lester B. Pearson, revelou uma resolução para a Assembleia-Geral:
"Solicito, como matéria de prioridade, que o Secretário-Geral apresente dentro de quarenta e oito horas um plano para a criação, com o consentimento das nações envolvidas, de uma força internacional de emergência das Nações Unidas para garantir e supervisionar a cessação das hostilidades..."
O resultado foi a criação da Força de Emergência das Nações Unidas (UNEF). Um relatório do Fundo Carnegie observou que essa resolução marcou "um endosso em princípio e, portanto, o primeiro passo para uma força policial da ONU." Posteriormente, Lester Pearson declarou o seguinte:
"Da forma como eu via a situação, as Nações Unidas precisavam agir rapidamente para criar algum tipo de força policial internacional que pudesse entrar no meio dos combatentes, encerrar a luta e evitar ação impetuosa por parte da Assembleia contra a França e a Grã-Bretanha — com todas as consequências lamentáveis que poderiam acontecer."

"... discuti a ideia dessa ação com Dag Hammarskjold, que a princípio teve dúvidas sobre seu momento e praticidade.... Tão logo possível, apresentei a resolução que levou à criação da Força de Emergência das Nações Unidas."

"Há um momento em uma crise internacional em que todos estão tão amedrontados com aquilo que possa acontecer que aceitam muitas coisas que nem sequer teriam contemplado antes da crise; e, de fato é improvável que contemplem uma semana após ela terminar. Portanto, no momento em que foi apresentada, minha resolução de uma força policial foi saudada com aclamação praticamente unânime."
Lester B. Pearson foi embaixador do Canadá nos EUA durante os críticos anos finais da Segunda Guerra Mundial. Em 1948, ele foi eleito para o Parlamento, um posto que manteve até 1968. Ele também foi Secretário de Estado das Relações Exteriores, de 1948 a 1957, e em 1952 foi o presidente da Assembleia-Geral da ONU. Em 1963, ele se tornou o décimo quarto primeiro-ministro do Canadá. Em 1957, Pearson recebeu o Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho em criar a Força de Emergência da ONU. Ele também exerceu um papel significativo na criação da OTAN.

No debate na Assembleia-Geral da ONU realizado em dezembro, vários delegados nacionais expressaram aprovação por uma força militar permanente das Nações Unidas. A Força de Emergência da ONU, baseada em Suez tinha adicionado um novo senso de energia à ideia de um sistema policial global.

Grécia: "Desarmamento progressivo... criação de uma força policial das Nações Unidas, capaz de garantir a ordem internacional."

Irã: Reconheceu que a UNEF em Suez ainda não era "o exército internacional que foi previsto na Carta." Entretanto, o UNEF "dá um grande passo para frente e tornará mais fácil, posteriormente, organizar esse exército internacional."

Laos: "Esperamos que ela [a UNEF] seja somente o primeiro passo e que esse núcleo de uma força policial mundial se desenvolva em um instrumento eficaz de ação, uma verdadeira força armada a serviço da paz."

Noruega: Sugeriu o estabelecimento de uma força permanente da ONU para agir como uma "brigada internacional de incêndio".

- Para o Fundo Carnegie, veja William Frye, A United Nations Peace Force (Carnegie Endowment for International Peace, 1957), pág. 7.

- Para a citação de Pearson, veja Lester B. Pearson, Peace in the Family of Man: The Reith Lectures, 1968 (Oxford University Press, 1969), pág. 14-15.

- Para o debate na Assembleia da ONU, veja Frye, A United Nations Peace Force, págs. 68-71.

1957: William R. Frye, trabalhando sob os auspícios do Fundo Carnegie para a Paz Internacional, escreveu A United Nations Peace Force (Uma Força de Paz das Nações Unidas). Esse livro delineia a história da Força de Emergência da ONU de 1956, e depois examina a viabilidade de um sistema policial internacional durável liderado pela ONU — incluindo os prós e contras das diferentes ideias, como dar à ONU um arsenal de armas nucleares ou lhe dar uma força militar de 500.000 homens. Ambas as sugestões foram apresentadas e depois criticamente examinadas pelo Sr. Frye.

O resultado desse livro, que teve uma ampla circulação entre os especialistas em política externa, foi uma recomendação para que a ONU estabelecesse uma "pequena e permanente força de paz, ou a máquina administrativa para uma..." Ao fazer isso, existe a possibilidade de uma maior evolução na ordem internacional:
"A força, em resumo, poderia se tornar um instrumento de transformação pacífica. Ao longo de um período de gerações, à medida que os conceitos de soberania fossem modificados e a natureza da guerra fria mudasse, uma força de paz da ONU poderia crescer para ter uma função de segurança coletiva. Ou, poderia se tornar a espinha dorsal de um sistema de controle dos armamentos. Ela poderia evoluir em muitas direções, dependendo do crescimento e necessidades da sociedade mundial."
O Sr. Frye foi auxiliado por um comitê especial de assessoria formado por:

  • Harding F. Bancroft: Representante dos EUA no Conselho de Medidas Coletivas da ONU.
  • Philip C. Jessup: professor de Direito Internacional e Diplomacia na Universidade de Colúmbia, e ativo na criação inicial das Nações Unidas.
  • Tenente-Coronel Amos A. Jordan: Chefe do Departamento de Ciências Sociais na Academia Militar de West Point (EUA).
  • Frank C. Nash: Ex-assistente do Secretário da Defesa dos EUA.
  • Charles P. Noyes: Consultor do Fundo Irmãos Rockefeller e ex-membro da Missão Americana nas Nações Unidas.
  • Joseph E. Johnson: Presidente do Fundo Carnegie para a Paz Internacional e ex-chefe da Divisão de Assuntos de Segurança Internacional do Departamento de Estado dos EUA. Johnson também foi membro da Fundação Paz Mundial e secretário americano nos encontros do grupo Bilderberg.

Apêndices foram acrescentados ao trabalho de Frye — uma série de minirrelatórios, constituindo quase a metade do livro. Esses relatórios detalham os desafios e possibilidades de uma força policial internacional. Uma das análises, "Aspectos Militares de uma Força Permanente da ONU", imagina a força como uma "brigada de infantaria com armamentos leves, formada por aproximadamente 7.000 homens", com tarefas incluindo "vigilância executiva, patrulhamento, controle de distúrbios e tarefas tipicamente policiais, com capacidade de se defender por um tempo limitado se atacada por forças hostis pequenas, organizadas ou irregulares..." Outro colaborador lidou com a criação de uma "Guarda" e "Legião" das Nações Unidas.

Os colaboradores que escreveram os apêndices foram Paul H. Nitze (ex-diretor da Equipe de Planejamento de Políticas do Departamento de Estado), Richard L. Plunkett (Fundação Ford), Ten-Cel. Charles A. Cannon (docente no Departamento de Ciências Sociais da Academia Militar de West Point), Leland M. Goodrich (membro do Secretariado Internacional, Conferência da ONU Sobre Organização Internacional), e Stephen M. Schwebel (advogado internacional associado com o escritório White & Case, de Nova York). Dois dos membros do Comitê Assessor de Frye também contribuíram com análises.

Com exceção de Plunkett e Cannon, todos os membros do Comitê e colaboradores — incluindo o Sr. Frye — eram membros do Conselho das Relações Internacionais (o CFR).

- William R. Frye, A United Nations Peace Force (Carnegie Endowment for International Peace/Oceana Publications, 1957).

1957: Dois senadores e dois representantes (deputados) americanos apresentaram uma resolução no Congresso propondo uma força militar da ONU. "Essa força deveria ser composta de unidades disponibilizadas pelos membros das Nações Unidas: Entretanto, essas unidades não deveriam ser aceitas dos membros permanentes do Conselho de Segurança."

1958: Uma Análise Sobre Defesa do Governo Britânico declara: "O objetivo final precisa ser o desarmamento abrangente de todas as nações, acoplado com a inspeção e controles abrangentes por parte de uma autoridade mundial."

Seguindo essa análise, dez membros conservadores do Parlamento publicaram um relatório intitulado Uma Autoridade de Segurança Mundial?. Um processo de três estágios foi advogado para alcançar o total desarmamento e a criação de uma Autoridade de Segurança Mundial, completa com armas nucleares.
"Pode-se esperar que todo o processo de estabelecer uma Autoridade Mundial de Segurança e do desarmamento nacional, resumido abaixo, leve no mínimo uma década."

Fase Preparatória

A. Após a ratificação do acordo, o órgão controlador da Autoridade de Segurança Mundial seria criado.

B. O órgão controlador da Autoridade estabeleceria uma Força Policial Mundial com comando, equipe de apoio, serviços de suprimento, e pessoal de Inteligência e de monitoramento das telecomunicações diretamente recrutado pela Autoridade de Segurança Mundial... O recrutamento para a Força Policial Mundial deverá ser feito principalmente a partir de dentro das forças nacionais existentes.

C. Uma Inspetoria Mundial seria criada ao mesmo tempo...

D. O núcleo diretamente recrutado da Força Policial Mundial continuaria a crescer e começaria a incluir unidades operacionais. Ao mesmo tempo, o princípio da especialização funcional seria introduzido entre os contingentes nacionais transferidos. Os guardas da Força ficariam estacionados e em prontidão em todas as pistas de pouso e locais de lançamento; mas a Autoridade neste estágio não disporia dos meios de entregar armas nucleares, nas mãos das unidades diretamente recrutadas ou transferidas.

E. A Força Policial Mundial, em um estágio bem posterior da Fase Preparatória, adquiriria os meios de lançar armas nucleares estratégicas e treinaria as unidades para lançá-las.

F. A Força Policial Mundial cessaria de crescer quando tivesse alcançado a força de uma grande potência, isto é, cerca de três milhões de homens, junto com armas nucleares apropriadas.

G. O Executivo da Autoridade de Segurança Mundial prepararia um plano detalhado para a Fase de Desarmamento...

Fase de Desarmamento

H. Uma vez que a concordância das grandes potências e da proporção necessária das outras nações tenham sido obtidas, o desarmamento nacional será levado adiante o mais rápido possível.

I. A Fase de Desarmamento levaria vários anos para ser concluída .

Fase da Operação Plena

J. A Fase da Operação Plena começaria quando a Autoridade de Segurança Mundial tiver atingido superioridade militar inquestionável e pudesse dali para frente manter e impor o acordo de desarmamento.

K. O desarmamento nacional continuaria até os níveis requeridos para a segurança interna, a serem definidos no acordo.

L. O poderio da Força Policial Mundial poderia então ser reduzido gradualmente. A Força teria de reter suas armas nucleares como uma proteção contra um ataque de surpresa com armas similares que possam ter sido escondidas da Inspetoria Internacional."
- A World Security Authority? (The Conservative Political Centre, 1958). Para a citação da Análise, veja a página 7. Para a estrutura das três fases, veja as páginas 16-17. Os dez membros conservadores do Parlamento que redigiram este relatório foram: C. Wilson Black, A. D. Dodds-Parker, J. G. Foster, R. Reader Harris, John Hay, contra-almirante John Hughes-Hallett, Martin Maddan, I. J. Pitman, David Price, e John Tilney.

1958: Grenville Clark e Louis B. Sohn publicam seu livro World Peace Through World Law (Paz Mundial Por Meio da Lei Mundial), que recomenda a criação de uma Força Policial Mundial e um "Desarmamento Mundial e uma Organização de Desenvolvimento Mundial". Esse livro rapidamente se tornou um clássico no círculo dos Federalistas Mundiais.

1959: Nas Nações Unidas, a União Soviética lançou seu "Programa de Desarmamento Geral e Completo", que advogava que as nações se desmilitarizassem em um processo de três estágios. Na primeira fase, as nações iniciariam uma redução controlada. O segundo estágio testemunharia o desmantelamento de todas as bases militares em território estrangeiro e a abolição das forças armadas retidas pelos Estados. O estágio três veria a destruição de todos os materiais bélicos, a cessação das atividades de pesquisas relacionadas com a guerra, o fim do treinamento militar e a abolição dos Ministérios da Guerra e dos Estados-Maiores — "Para controlar a implementação das medidas do desarmamento geral e completo, um órgão de controle internacional deverá ser criado." As nações reteriam uma pequena força policial, ou uma milícia, equipada para manter a ordem interna.

Em outubro, Henry Cabot Lodge Jr., o embaixador americano nas Nações Unidas, respondeu à recomendação soviética solicitando que a ONU comece a estudar "um sistema de forças policiais internas e internacionais para preservar a paz no caso do desarmamento mundial total." Lodge solicitou "respostas detalhadas" às seguintes questões:
  1. Que tipo de força policial internacional seria estabelecida para preservar a paz e a segurança internacionais?
  2. Quais princípios da Lei Internacional deveriam governar o uso dessa força?
  3. Quais forças de segurança internas, em termos precisos, seriam requeridas pelas nações do mundo se os armamentos existentes fossem abolidos?

- "Declaração do Governo Soviético Sobre o Desarmamento Geral e Completo", The Soviet Stand on Disarmament (Crosscurrents Press, 1962).

- Para o papel de Lodge, veja "US Urges UN to Devise World Police System," Toledo Blade, 14 de outubro de 1959.

1959: Um relatório intitulado A Organização Mundial circulou no encontro anual dos Federalistas Mundiais Unidos. O documento recomendava dividir o planeta em zonas administrativas e blocos regionais e colocar essas entidades sob uma robusta Organização Mundial — a substituição para a limitada Organização das Nações Unidas. Uma vez no poder, a Organização Mundial "criaria uma diretoria composta por..."
  • Um Diretor Mundial
  • Oito Diretores de Zonas
  • Cinco Comandantes
  • Cinquenta e um Diretores Regionais.

Para garantir a ordem mundial, um "Sistema de Segurança Mundial" seria comissionado; incluindo 49 divisões de Tropas de Guarnição e 9 divisões de Tropas de Força de Campo. Forças aéreas e navais seriam realocadas à Organização Mundial e cada órgão Terrestre, Marítimo e Aéreo teria seu próprio comandante. Da mesma forma, um braço "Pesquisa e Desenvolvimento em Segurança", com seu próprio comandante, coordenaria os desenvolvimentos científicos e técnicos no que se refere ao aprimoramento da função militar da Organização Mundial. Esta proposta, e muitos planos similares que circularam entre os grupos de lóbi pró-governo mundial, demonstram a cosmovisão internacionalista e a abordagem coletivista para a ordem mundial.

Nota: A UWF (United World Federalists, Federalistas Mundiais Unidos) mais tarde tornou-se Associação Federalista Mundial (WFA, de World Federalist Association): um influente grupo de lóbi pró-governo mundial sediado nos EUA. Em 2003, a Associação Federalista Mundial fundiu-se com sua organização-irmã, a Campanha Pró-Reforma da ONU, e mudou seu nome para Cidadãos Pró-Soluções Globais (CGS, de Citizens for Global Solucions). Ao longo das décadas, a UWF, WFA e agora CGS trabalham com as Nações Unidas, vários centros de estudos e debates e outras organizações internacionalistas para promoverem a governança global. Também existem vínculos históricos com o Departamento de Estado e a CIA (Agência Central de Inteligência). (Cord Meyer foi o primeiro presidente da WFA e uma famosa personalidade na CIA.). Além disso, a organização CGS trabalha lado a lado com diplomatas e atores na política externa e doa dinheiro para candidatos políticos que simpatizem com seus objetivos.

1959: O afamado filósofo britânico Bertrand Russell propõe um governo mundial de base científica em seu livro The Future of Science (O Futuro da Ciência). Mesmo reconhecendo que esse regime seria tirânico, ele aceitou isso, acreditando que haveria benefícios e que a liberdade eventualmente seria incorporada:
"Acredito que devido à estultícia humana, um governo mundial somente será estabelecido à força e, portanto, inicialmente será cruel e despótico. Entretanto, acredito que isso seja necessário para a preservação da civilização científica e que esse governo gradualmente permitirá o aparecimento de outras condições que possibilitarão uma existência tolerável."

- Bertrand Russell, The Future of Science (Philosophical Library, 1959), pág. 34.
Autor: Carl Teichrib, artigo original em http://www.forcingchange.org, Volume 5, Edição 6. 
Data da publicação: 8/11/2011
Transferido para a área pública em 16/6/2013

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